Norbert
Lieth*
Como será o fim do mundo?
A Escritura Sagrada revela mais sobre isso do que possivelmente achamos. Israel
deverá desempenhar um papel decisivo nisso. É o que mostra o profeta Joel.
Há milhares de anos, Deus
anunciou algo inconcebível para o mundo – algo que até hoje não se cumpriu. Por
meio do seu profeta Joel, ele mandou dizer ao povo de Israel: “Então vocês
saberão que eu estou no meio de Israel. Eu sou o Senhor, o seu Deus, e não há
nenhum outro; nunca mais o meu povo será humilhado” (Jl 2.27). Este é o
objetivo final de Deus com Israel.
O profeta Zacarias explica
que virá um dia em que Israel reconhecerá o seu Senhor e Redentor e olhará para
aquele que traspassou (Zc 12.10; cf. Ap 1.7). Jesus Cristo revelou-se como
aquele Senhor e Redentor traspassado, e ele mesmo esclarece que em um dia
futuro o povo dos judeus lhe dará boas-vindas: “Pois eu digo que vocês não me
verão mais, até que digam: ‘Bendito é o que vem em nome do Senhor’” (Mt 23.39).
O caminho até lá é longo,
o que se constata pelo fato de que nós hoje vivemos no ano de 2018 após o
(suposto) ano de nascimento do nosso Senhor Jesus. Joel descreve
cronologicamente como esse longo caminho transcorrerá, imediatamente após o versículo
citado acima, no capítulo 2:
“E, depois disso,
derramarei do meu Espírito sobre todos os povos [‘sobre toda carne’, RA]. Os
seus filhos e as suas filhas profetizarão, os velhos terão sonhos, os jovens
terão visões. Até sobre os servos e as servas derramarei do meu Espírito
naqueles dias. Mostrarei maravilhas no céu e na terra: sangue, fogo e nuvens de
fumaça. O sol se tornará em trevas, e a lua em sangue, antes que venha o grande
e temível dia do Senhor” (v. 28-31).
Basicamente, o profeta de
Deus descreve na mesma visão dois eventos distintos. O período entre esses dois
eventos ele não vê. A questão é: somente quando todos os eventos profetizados se
encaixarem perfeitamente na moldura das declarações bíblicas é que podem ser
chamados de cumprimento de profecia.
No dia de Pentecostes, o
apóstolo Pedro lança mão da profecia de Joel e diz: “Nos últimos dias, diz
Deus, derramarei do meu Espírito sobre toda carne. Os seus filhos e as suas
filhas profetizarão, os jovens terão visões, os velhos terão sonhos” (At 2.17).
O “fim dos tempos” é
marcado ou introduzido com o Pentecostes, quando o Espírito Santo foi derramado
sobre a igreja. Esse período do fim se estende continuamente até a volta do
Senhor em glória: “... antes que venha o grande e glorioso dia do Senhor” (At
2.20), no qual o Senhor virá em sua glória. O período em que vivemos desde o
Pentecostes é, assim, o período final, que se encerrará com a volta de Cristo.
É interessante que Pedro
não diz que o Pentecostes seria o cumprimento da declaração de Joel – ele
apenas aponta para ela: “... isto é o que foi predito pelo profeta Joel” (At
2.16). Sempre que algo se “cumpre”, a Escritura Sagrada enfatiza isso (veja
p.ex. Mt 1.22; 2.17,23; 4.14; 8.17; 12.17; 13.14,35; 26.54,56; 27.9). O
derramamento do Espírito Santo foi uma antecipação para a igreja, mas ele não
foi o pleno cumprimento da profecia veterotestamentária. Esta refere-se a
“depois disso”. O cumprimento se dará “depois disso”.
Pedro esclarece que
irromperam os últimos dias, ou seja, os últimos dias referentes a Israel e ao
reino messiânico. É disso que os profetas falavam. Pedro prevê a gloriosa volta
do Senhor Jesus e os eventos que a acompanharão (cf. At 3.19-21). O que naquele
momento Pedro evidentemente não sabia era que o Onipotente ainda incluiria um
mistério – a igreja composta de Israel e das nações. Esse mistério começou a
realizar-se com a conversão de Cornélio (At 10) e só foi revelado plenamente ao
apóstolo Paulo (Ef 3). Assim, no Pentecostes fundou-se a igreja de Jesus
Cristo, mas o próprio Senhor Jesus não se revelou em glória.
Ao término da chamada
“tribulação”, o Espírito de Deus seria derramado “sobre toda carne”, mas
somente os judeus profetizarão e terão sonhos e visões, porque no reino milenar
eles serão o povo santo de Deus. O Pentecostes foi só a primeira etapa. Nele o
Espírito Santo não foi derramado sobre toda carne, mas apenas sobre os judeus
crentes que estavam ali.
Se Atos 2 tivesse sido o
cumprimento pleno de Joel 3, Pedro não teria dito, um pouco mais tarde, em seu
segundo sermão: “Arrependam-se, pois, e voltem-se para Deus, para que os seus
pecados sejam cancelados, para que venham tempos de descanso da parte do Senhor,
e ele mande o Cristo, o qual lhes foi designado, Jesus” (At 3.19-20).
A profecia de Joel 3
somente se cumprirá completamente no final da tribulação, porque os sinais
prodigiosos citados ali ocorrerão antes da volta de Jesus em glória: sangue,
fogo e nuvens de fumaça, e o sol se escurecerá e a lua se tornará em sangue.
Quando, em seguida, o Senhor vier à terra para estabelecer o seu reino, terá
chegado o momento em que o Espírito de Deus será derramado “sobre toda carne”.
Joel 2.28 diz: “E, depois disso...”. Depois que o Senhor tiver retornado ao
meio de Israel e este o reconhecer como Messias-Deus e o povo não for mais
humilhado (Jl 2.27), o Espírito Santo será derramado sobre toda carne. Todavia,
antes de isso acontecer, o céu e a terra terão de ser movidos pelos juízos da
grande tribulação.
“E todo aquele que invocar
o nome do Senhor será salvo, pois, conforme prometeu o Senhor, no monte Sião e
em Jerusalém haverá livramento para os sobreviventes, para aqueles a quem o
Senhor chamar” (Jl 2.32). Naquele tempo, quando o Senhor voltar para habitar em
meio ao seu povo, todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo. – Isso
já vem sendo cumprindo durante a presente dispensação da igreja (Rm 10.13), mas
ainda aguarda seu pleno cumprimento no reino messiânico. Por isso podemos falar
aqui de um “cumprimento parcial”.
O professor bíblico Arno
C. Gaebelein comenta: “O futuro grande derramamento do Espírito sobre toda
carne terá a salvação como consequência. Hoje vale o feliz princípio de que
‘todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo’, mas isso também ocorrerá
naquele dia. A palavra da boca do nosso Senhor, de que ‘a salvação vem dos
judeus’ (Jo 4.22), se cumprirá em sua forma mais abrangente. Então as nações se
unirão ao Senhor (Zc 2.11)”.
A primeira parte de Joel
2.32 aplica-se aos nossos tempos, mas a última frase, “para aqueles a quem o
Senhor chamar”, provavelmente aponta para o tempo final, no qual Deus retomará
a linha de Israel. Naquele tempo, o remanescente (os que restaram) de Israel
será salvo, e esse remanescente salvo representará então todo o Israel: “Um
remanescente voltará, sim, o remanescente de Jacó voltará para o Deus Poderoso”
(Is 10.21). “E assim todo o Israel será salvo, como está escrito: ‘Virá de Sião
o redentor que desviará de Jacó a impiedade’” (Rm 11.26).
Segundo Romanos 11.4, já
hoje os judeus que creem em Jesus formam um remanescente – eles pertencem à
seleção da graça dentro da igreja. Quando, porém, a dispensação da igreja se
encerrar, o Senhor se voltará aos israelitas, que então terão de passar pela
tribulação para depois ingressar no reino messiânico. Em Apocalipse 14.1 vemos
o Cordeiro de Deus sobre o monte Sião, cercado pelos 144 000 selados de Israel.
Eles são descritos como “primícias” porque outros salvos ainda os seguirão (v.
4). Então salvação virá do monte Sião e de Jerusalém para todas as nações.
Como há 70 anos temos de
novo um Estado judeu, criou-se a possibilidade de o povo poder novamente
esperar o Senhor em Sião, ou Jerusalém. Deus está preparando o povo e a terra
para os últimos eventos. “Sim, naqueles dias e naquele tempo, quando eu
restaurar a sorte de Judá e de Jerusalém” (Jl 3.1).
A restauração de Israel
transcorre em três fases: na primeira, será reunido em sua própria terra, em
estado de incredulidade (Ez 36.24); na segunda, receberá em seguida o perdão,
quando o Senhor voltar (Ez 36.25); e, na terceira, Deus derramará o Espírito
Santo sobre o seu povo, para o seu renascimento (Ez 36.26). Em primeiro lugar
vem a restauração física, depois a espiritual. Por isso, não é de admirar que
hoje Israel ainda não creia e que se trate predominantemente de um povo
secularizado. Parece que essa circunstância se encaixa perfeitamente nos planos
de Deus.
O destino de Judá se
reverteu em 1948, durante a Guerra da Independência, e o destino de Jerusalém
em 1967, com a reconquista da cidade. Cronologicamente reconhecemos em Joel, à
luz do Novo Testamento, primeiro o evento de Pentecostes, ainda que não como cumprimento
pleno. Segundo, a dispensação da igreja, ainda oculta para o profeta. Terceiro,
a renovação do Estado de Israel.
Chama atenção neste
contexto o que Deus diz em seguida por meio do profeta Joel: “Reunirei todos os
povos e os farei descer ao vale de Josafá. Ali os julgarei por causa da minha
herança – Israel, o meu povo –, pois o espalharam entre as nações e repartiram
entre si a minha terra. Lançaram sortes sobre o meu povo e deram meninos em
troca de prostitutas; venderam meninas por vinho, para se embriagarem. O que
vocês têm contra mim, Tiro, Sidom, e todas as regiões da Filístia? Vocês estão
me retribuindo algo que eu fiz a vocês? Se estão querendo vingar-se de mim,
ágil e veloz me vingarei do que vocês têm feito” (Jl 3.2-4).
Notemos as seguintes
ênfases: meu povo, minha herança, minha terra. Joel escreve sobre eventos
próximos daquele tempo e sobre eventos que se referem à volta e ao dia do
Senhor. Graças à Palavra de Deus completa e aos nossos conhecimentos
históricos, temos hoje a possibilidade de distinguir esses eventos.
Há quase 2 000 anos, por
volta de 70 d.C., a terra de Israel foi “desjudaizada”, e principalmente os
israelitas jovens foram vendidos como escravos. Gaebelein relata: “Quase 1,5
milhão de pessoas morreram em Jerusalém e no país durante aquela terrível
guerra. Mais de 100 000 foram para o cativeiro. Segundo Josefo, Tito dispôs
desses 100 000 judeus da seguinte maneira: ‘Os menores de 17 anos foram
vendidos publicamente. Dos restantes, alguns foram executados imediatamente e outros
enviados ao trabalho nas minas do Egito (o que era pior que a morte). Alguns
tiveram de lutar com feras nos espetáculos públicos realizados em todas as
cidades de maior porte. Só os maiores e mais apresentáveis foram selecionados
para o desfile triunfal em Roma’. Os judeus eram tão baratos que eram vendidos
por uma medida de cevada. Milhares tiveram esse destino. E do que mais
poderíamos relatar com base na história de séculos senão das cruéis e terríveis
perseguições que a herança de Deus sofreu, dos milhares e milhares de
trucidados, torturados, desprezados e vendidos como escravos? Então não
acabamos de ver recentemente na Alemanha abominações semelhantes? O
desenvolvimento histórico ainda não terminou. Ainda haverá outras campanhas de
ódio contra a herança de Israel, até que o iminente período de tribulação para
Jacó ofusque todo o sofrimento havido até agora. Esse será um tempo de angústia
como não houve desde o início do mundo e que jamais se repetirá (Mt 24.21).
Virá o dia em que o Senhor julgará as nações por causa de todo o mal que
cometeram”.
É como o Senhor diz por
meio de Joel: “... repartiram entre si a minha terra”. – O conflito entre
Israel e a liderança palestina em torno dessa mesma terra é chamado de conflito
do Oriente Médio. Até hoje, Tiro, Sidom e os distritos filisteus são
rigorosamente hostis a Israel. O dr. Roger Liebi alerta para o fato de que a
Filisteia designa a terra dos filisteus. Desde a Antiguidade, essa região ocupa
a Faixa de Gaza e um pouco além. O termo “palestinos” remonta à designação
latina dos filisteus. No árabe, isso fica mais claro. Na Bíblia árabe, a
palavra para filisteus é filastini. “Uma tradução moderna possível seria
‘distritos palestinos’.”
O fato é que, com a
reentrada de judeus em sua pátria milenar, as lutas em torno da terra
começaram. Os judeus reivindicavam sua pátria, as potências mundiais lutavam
por uma solução, os estados árabes preferiam uma “solução final”. A ONU, que
reúne os povos, não leva em conta que Deus disse: “... repartiram entre si a minha
terra”. As nações pensam poder reivindicar a terra de Israel por meio de uma
resolução após a outra. Não percebem que com isso estão se rebelando contra
Deus e que ele cobrará contas delas por isso.
A Associação de Imprensa
Europa Israel (EIPA, na sigla em inglês) escreve: “Em 29 de novembro de 1947, a
Assembleia Geral da ONU deliberou a respeito e emitiu, com 33 votos contra 13,
uma resolução sobre a partilha da terra. O plano de partilha falava de dois
estados a serem criados no território: um judeu e um árabe. Segundo esse plano,
cerca de um terço do Estado judeu consistiria da pequena planície costeira
novamente fértil mais a Galileia, e cerca de dois terços seriam da grande
região árida do deserto do Neguebe, correspondendo ao todo a 56,47% do território
restante do Mandato da Palestina sem a Jordânia. Naquela ocasião, o deserto do
Neguebe não podia nem ser aproveitado para agricultura nem era possível erigir
cidades ali [...] Segundo o plano de partilha da ONU, a região de Jerusalém e
Belém se tornaria uma zona internacional. A liderança sionista aceitou
oficialmente o plano de partilha da ONU, embora tivesse esperado encontrar um
meio de ampliar as fronteiras do Estado judeu. Já os árabes palestinos e os
estados árabes vizinhos rejeitaram o plano de partilha da ONU e interpretaram a
votação da Assembleia Geral como traição internacional. Em seguida, iniciaram
um ataque militar coordenado contra os judeus, poucos dias após a aprovação do
plano da ONU”.
Nas guerras subsequentes
sempre se tratou de dividir a terra, de estabelecer um Estado palestino, de não
reconhecer Jerusalém como capital de Israel e de eliminar os judeus o mais
completamente possível. A comunidade internacional buscava e ainda busca uma
solução com dois estados, tendo-se chegado a zonas de autonomia administrativa
palestina. Noções como “Acordos de Camp David I e II” ou “Resoluções de Oslo I
e II” entraram para a história. No Camp David II, do ano 2000, o
primeiro-ministro israelense Ehud Barak ofereceu ao líder palestino Yasser
Arafat abrir mão de 95% da Faixa de Gaza e da margem ocidental e declarar
partes da Jerusalém Oriental como capital palestina. Arafat, porém, recusou. No
mínimo, os palestinos reivindicam dois estados separados nos limites de 1967, o
que para os israelenses está fora de cogitação porque isso corresponderia a um
suicídio.
Em razão do terrível
terrorismo que levou à morte numerosos civis, o governo israelense se viu
forçado a erguer cercas e muros, separando as áreas judias das palestinas. A
Transjordânia foi atribuída aos jordanianos e a Cisjordânia continua a ser
objeto de disputa. Os EUA buscam uma solução com dois estados e repetidamente
se têm oferecido como mediadores, o que, porém, até agora não teve êxito.
Recentemente o presidente americano Donald Trump afirmou: “Contemplo um estado
e dois estados, e posso conviver com ambos”.
Do ponto de vista da
palavra profética da Bíblia, uma divisão em Israel e em Jerusalém é
perfeitamente plausível. Não só Joel se refere a isso, como também Jesus.
Jerusalém será pisada pelas nações até que o tempo das nações se esgote (Lc
21.24; Ap 11.2). No entanto, o tempo das nações só se esgotará com o fim da
grande tribulação e a subsequente volta de Jesus em glória. Portanto, o futuro
ainda será muito instigante, e observamos aqui a atualidade da profecia de
Joel.
Os debates em torno da
terra sempre terminaram em guerras, e pode-se esperar que a situação ainda
piore. Zacarias também fala disso: “Farei de Jerusalém uma taça que embriague
todos os povos ao seu redor, todos os que estarão no cerco contra Judá e
Jerusalém. Naquele dia, quando todas as nações da terra estiverem reunidas para
atacá-la, farei de Jerusalém uma pedra pesada para todas as nações. Todos os
que tentarem levantá-la se machucarão muito” (Zc 12.2-3).
Isto nos conduz ao próximo
ponto da profecia cronológica de Joel: “Proclamem isto entre as nações:
Preparem-se para a guerra! Despertem os guerreiros! Todos os homens de guerra
aproximem-se e ataquem. Forjem os seus arados, fazendo deles espadas; e de suas
foices façam lanças. Diga o fraco: ‘Sou um guerreiro!’ Venham depressa, vocês,
nações vizinhas, e reúnam-se ali. Faze descer os teus guerreiros, ó Senhor!
‘Despertem, nações; avancem para o vale de Josafá, pois ali me assentarei para
julgar todas as nações vizinhas. Lancem a foice, pois a colheita está madura.
Venham, pisem com força as uvas, pois o lagar está cheio e os tonéis
transbordam, tão grande é a maldade dessas nações!’ Multidões, multidões no
vale da Decisão! Pois o dia do Senhor está próximo, no vale da Decisão” (Jl
3.9-14).
Em seu conhecido sermão
escatológico no monte das Oliveiras, Jesus Cristo falou de guerras e rumores de
guerras, de nações em conflito umas com as outras, tudo isso como o início das
dores (Mt 24.6-8). Na abertura do segundo selo no Apocalipse, na introdução do
dia do Senhor, também se fala de guerras (Ap 6.3-4). Para Daniel foi
profetizado: “Depois das sessenta e duas semanas, o Ungido será morto, e já não
haverá lugar para ele. A cidade e o Lugar Santo serão destruídos pelo povo do
governante que virá. O fim virá como uma inundação: guerras continuarão até o
fim, e desolações foram decretadas [plural]” (Dn 9.26).
Este é exatamente o curso
da história do nosso mundo: o Messias foi crucificado. Posteriormente vieram os
romanos e destruíram Jerusalém e o templo nos anos 70 d.C. e 135 d.C., como
numa inundação avassaladora. A partir daí a história da cidade seria marcada
por guerras e destruição. E, de fato: desde então as guerras e devastações têm
sido constantes – e muito particularmente em relação ao judaísmo. Isso
prosseguirá até o fim.
Guerras, rebeliões, abusos
contra o judaísmo, pogroms, perseguições, opressão islâmica, inquisições, as
duas guerras mundiais, as guerras e o terrorismo após o retorno dos judeus à
sua terra... isso continuará assim até a volta do Senhor. E com essa volta se
completará esta era e o fim dos tempos das nações (Mt 24.3; Lc 21.24). “Mas
aquele que perseverar até o fim será salvo. E este evangelho do Reino será
pregado em todo o mundo como testemunho a todas as nações, e então virá o fim”
(Mt 24.13-14).
Apocalipse 16 fala da
batalha do Armagedom: “Então os três espíritos os reuniram no lugar que, em
hebraico, é chamado Armagedom” (v. 16). Essa declaração baseia-se em Joel 3.11,
porque tudo indica tratar-se do mesmo evento: “Venham depressa, vocês, nações
vizinhas, e reúnam-se ali”. A batalha final no vale de Josafá começa em
Armagedom e depois se estende vale adentro. Deus escreve sua história sagrada
em meio à história das calamidades do mundo. Passando por todos os períodos de
guerra e crises, o Estado judeu retornou. O fato de o judaísmo ainda existir é
um sinal da preservação das alianças de Deus com Israel. É ele que reúne os
povos para o julgamento. Josafá significa “Javé julga”. Ali ele julgará os
povos e naquela região o Senhor aparecerá em glória. Ali Israel será salvo em
sua hora mais difícil.
“O sol e a lua
escurecerão, e as estrelas já não brilharão” (Jl 3.15). Essa declaração já foi
antecipada em Joel 2.30-32 e é repetida aqui. Portanto, antes de o Espírito
Santo ser derramado sobre toda carne, virá uma grande tribulação. Israel
enfrentará uma angústia muito grande. Uma aliança de nações se oporá a Israel;
haverá uma aliança do Ocidente. As nações assaltarão Israel sob a liderança do
Anticristo. Haverá, contudo, também uma aliança dos povos do Norte e do Oriente
(Dn 11; Ap 16), mas Deus intervirá do céu.
Para o juízo, tanto Joel
3.13 como também Apocalipse 14.14-20 aplicam a imagem da colheita e do
esmagamento de uvas no lagar. Jesus Cristo menciona que o sol e a lua
escurecerão (Mt 24.29). Apocalipse 6.14 traz a imagem de que o céu será
recolhido como um rolo de livro. Todas essas expressões seguem na mesma
direção.
“O Senhor rugirá de Sião,
e de Jerusalém levantará a sua voz; a terra e o céu tremerão. Mas o Senhor será
um refúgio para o seu povo, uma fortaleza para Israel. Então vocês saberão que
eu sou o Senhor, o seu Deus, que habito em Sião, o meu santo monte. Jerusalém
será santa; e estrangeiros jamais a conquistarão” (Jl 3.16-17).
Naqueles dias, o Messias
de Israel retornará. Os tempos das nações chegarão ao fim e Israel será salvo.
Primeiro ele aparecerá no monte das Oliveiras, e depois virá a Sião para lutar
por seu povo. Ele é o “Leão da tribo de Judá” (Ap 5.5), que rugirá por seu povo
e o protegerá. Os israelitas o reconhecerão, se arrependerão e o receberão como
seu Messias. Quando o próprio Senhor vier habitar em Jerusalém, ela será santa.
E a profecia de Joel 2.27 já mencionada no início se cumprirá: o Espírito Santo
será derramado e os judeus se tornarão o povo missionário para as nações.
“‘Naqueles dias, os montes
gotejarão vinho novo; das colinas manará leite; todos os ribeiros de Judá terão
água corrente. Uma fonte fluirá do templo do Senhor e regará o vale das
Acácias. Mas o Egito ficará desolado, Edom será um deserto arrasado, por causa
da violência feita ao povo de Judá, em cuja terra derramaram sangue inocente.
Judá será habitada para sempre e Jerusalém por todas as gerações. Sua culpa de
sangue, ainda não perdoada, eu a perdoarei.’ O Senhor habita em Sião!” (Jl
3.18-21).
As plenas correntes das
bênçãos de Deus regarão a terra. Não haverá mais carência. A glória do Messias
se estenderá sobre tudo. Uma fonte brotará do futuro templo e regará o vale das
Acácias – localizado na margem norte do mar Morto. Essa declaração vai na mesma
direção que as profecias de Ezequiel 47.1-12 e Zacarias 14.8. É uma maravilhosa
imagem da vitória do Senhor sobre o pecado, a morte e o Diabo. Onde ele
governa, há vida em abundância.
Israel será purificado de
sua culpa de sangue, que vem pesando sobre ele desde a crucificação de Jesus e
seu grito: “Que o sangue dele caia sobre nós e sobre nossos filhos!” (Mt
27.25). Ao reconhecer e receber o Messias, encontrarão o perdão.
No entanto, o contrário
sobrevirá ao Egito e a Edom (a Jordânia). Eles se tornarão ermos e desertos por
causa da sua violência perpetrada contra o povo judeu, porque com isso se
rebelaram contra Deus e tocaram na menina dos seus olhos. Esses dois lugares podem
perfeitamente representar os povos que se elevam contra sua Palavra, suas
alianças e seu povo. Quase todas as palavras proféticas sobre o dia do Senhor
mencionam essas duas nações (Ez 30.3ss; Jr 46.2-10; Is 34.6-8; Ob). Nesse
sentido, é muito interessante e ao mesmo tempo atual que, de todos os países
árabes, apenas o Egito e a Jordânia firmaram tratados de paz com Israel,
respectivamente em 1979 e 1994. Seria possível que, a certa altura, esses
tratados de paz sejam rompidos, que Israel seja atacado pelas costas e que isso
resulte em uma condenação particular? Assim, bênção e maldição se contrapõem.
Em Cristo há bênção e plenitude de vida. No entanto, quem rejeitar a fé,
opondo-se a ele e se rebelar, ressecará espiritual e emocionalmente e, por fim,
sucumbirá no juízo.
Judá e Jerusalém hão de
permanecer eternamente, o que sublinha a fidelidade de Deus. Israel será
purificado de sua culpa de sangue, que vem pesando sobre ele desde a
crucificação de Jesus e seu grito: “Que o sangue dele caia sobre nós e sobre
nossos filhos!” (Mt 27.25). Ao reconhecer e receber o Messias, encontrarão o
perdão. A cronologia de Joel termina com a constatação de que “o Senhor habita
em Sião!”.
Assim, Joel nos apresenta
de forma profética e cronológica o evento do Pentecostes, mesmo ainda sem o seu
cumprimento pleno; a era da igreja, ainda oculta para o próprio Joel; a
renovação do Estado de Israel; a partilha da terra; guerra; a grande
tribulação; o retorno do Senhor Jesus; e o reino messiânico. Portanto, a
palavra profética de Deus promete a Israel uma terra restaurada, um povo
redimido, uma cidade santa e um rei glorioso.
Sem querermos ou podermos
calcular alguma data, certamente podemos dizer que enfim ingressamos no período
iminentemente anterior à volta de Cristo.
*Norbert
Lieth nasceu em 1955 na Alemanha, sendo missionário na
América do Sul entre 1978 e 1985. Casado, tem 4 filhas. Hoje faz parte da
liderança da Chamada da Meia-Noite em sua sede, na Suíça. O ponto central de
seu ministério é a palavra profética, sendo autor de diversos livros e
conferencista internacional. Ele estará presente no 22º Congresso
Internacional Sobre a Palavra Profética, organizado pela Chamada.