1. “E AO ANJO da igreja que está em Sardes escreve: isto diz o que tem os sete Espíritos de Deus, e as sete estrelas: Eu sei as tuas obras, que tens nome de que vives, e estás morto”.
I. “...Ao anjo da igreja”. Nada se sabe acerca desse anjo (pastor) da igreja de Sardes, exceto aquilo que poderia ser depreendido do presente texto. Pelo uso da expressão: “tens nome de que vives” dá a entender sua grande popularidade. A História Eclesiástica menciona um “anjo” muito famoso dessa igreja, mas sua estada ali se seu no século II, e não no primeiro; seu nome era Melito. Melito, o Bispo de Sardes, do século II d.C., é mencionado três vezes na “História Eclesiástica” de Eusébio. Melito escreveu uma apologia, dirigida ao imperador romano, em defesa da fé cristã. Ele foi um crente intenso, dotado de grande poder e autoridade na sua geração.
1. SARDES. O nome significa em grego “príncipe de gozo”. Situação Geográfica: encrava-se no pequeno Continente da Ásia Menor. Era essa a capital do antigo reino da Lídia. Originalmente Sardes fora uma fortaleza poderosa, mas Ciro, rei da Pérsia, derrotou esta cidade e outras das redondezas, no ano de (549 a. C.). Essa cidade passou às mãos de Antíoco, o Grande, “Ali, por ocasião em que essa carta estava sendo escrita, achava-se essa Igreja em uma situação espiritual extremamente melindrosa. O processo de declínio de seu pastor fora tão sutil que, na realidade, nem fora observado”. Dois gêneros de mortes estavam rondando este “anjo”: (a) a morte moral (b) a morte espiritual. (Cf. Gn 20.3 e Ef 2.1). Ele se encontrava duplamente morto (cf. Jd v. 12). A igreja é representada pelo seu pastor, mas também é repreendida por Cristo através do mesmo. Ela é repreendida por viver em situação contraditória: a vitalidade exterior disfarça morte espiritual interior. É uma situação de limite, da qual ela se recuperará mediante “uma lembrança” do que tem recebido e ouvido da parte do Senhor, que diz: “Lembra-te pois do que tens recebido e ouvido, e guarda-o!”.
2. “SÊ vigilante, e confirma os restantes, que estava para morrer; porque não achei as tuas obras perfeitas diante de Deus”.
I. “...confirma os restante”. Embora o pastor de Sardes estivesse sendo classificado como “mortos” a vista de Deus, esta dupla ordem de Jesus Cristo nos deixa entrever que ainda, na sua vontade, Ele tenta um derradeiro esforço para salvar o restante. Porém, a parte da pregação, deveria fazê-la o pastor. É óbvio, diz M. S. Novah que alguns havia na igreja que ainda tinham um pouco de vida espiritual. Daí Jesus haver dito: “...confirma os restantes, que estavam para morrer”. A recomendação de Cristo é urgente, e ordena livrar “os que estão destinados à morte”. A expressão “confirma” depreendida do texto em foco, não significa: confirma sua morte, mas, confirma sua fé (cf. At 14.22). O Dr. R. Norman observa que aquela igreja já não estava inteiramente destituída do bem, da vida e da esperança. O que era bom precisava ser melhorado. Ela tinha que ouvi o grito: “Torna-te desperto, e põe-te a vigiar” (Vincent, in loc). Essa é uma tradução literal do que diz o grego (Ef 5.14). O sono deles era um sono letal, a menos que se despertassem.
3. “Lembra-te pois do que tens recebido e ouvido, e guarda-o, e arrepende-te. E, se não vigiares, virei sobre ti como um ladrão, e não saberás a que hora sobre ti virei”.
I. “...Virei sobre ti como um ladrão”. O leitor deve observar com atenção a frase, “como” antecipando as palavras “um ladrão”.
1. O Dr. Russell Norman Champrin, Ph, D. Grande expoente do Apocalipse, diz que essa frase tem as seguintes significações: (a) De maneira inesperada; (b) Como um laço tristonho para os que não estiverem preparados; (c) Sem nenhuma oportunidade de aviso prévio. As Escrituras que falam da Vinda (Parousia) de Cristo, como um ladrão, são: *Mt 24.53; Lc 12.38; 1Ts 5.2, 4; Ap 3.3; 16.15). A expressão: “como um ladrão de noite” em (2Pd 3.10), não se aplica à segunda Vinda de Cristo, mas ao “dia do Juízo Final”, e expurgação de céus e terra. A palavra “ladrão”, com esse sentido, no grego hodierno é Kleptós, indica alguém que normalmente não rouba com violência, mas que obtém sucesso com suas habilidades imprevisíveis, em contraste com outro vocábulo, “Lestes”, que significa “assaltante”, aquele que se apossa do alheio por meio da violência. (As próprias autoridades judiciais distinguem, entre o furto e o roubo). Segundo um exegeta, a frase empregada neste versículo, é “Hleptós”, e indica uma forma “invisível”, “inesperada”, de alguém, em direção de algo precioso, como por exemplo: “um tesouro” (Israel). Sl 135.4: “uma pérola” (a Igreja). Mt 13.44-46 e ss). Esse deva ser o significado do pensamento aqui e nos textos que se seguem.
4. “Mas também tens em Sardes algumas pessoas que não contaminaram seus vestidos, e comigo andarão de branco; porquanto são dignos disso”.
I. “...e comigo andarão de branco”. O branco é a cor da retidão, da pureza e inocência. Os sacerdotes acusados, mas justificados diante do Sinédrio {O Sinédrio. É o vocábulo grego synedrion (do qual o termo hebraico sanhedrin é uma palavra emprestada). No NT o termo se refere à suprema corte judaica composta de 70 membros e um presidente: O Sumo Sacerdote} eram vestidos com um manto branco como sinal de sua inocência. (Ver o que diz Judas V.23: “...aborrecendo até a roupa manchada da carne”). Esse “andar” referido no presente texto, é presente e escatológico, isto é, em companhia de Cristo em todos os tempos (cf. Ec 9.8). Durante toda História de Israel, Deus preservou para Sl um “remanescente”, e durante toda História da Igreja aqui na terra, o mesmo acontecerá. “O remanescente de Israel não cometerá iniqüidade, nem proferirá mentira, e na sua boa não se achará língua enganosa; Porque serão apascentados, deitar-se-ão, e não haverá quem os espante” (Sf 3.13). Verdade é que nem todos em Israel e na Igreja, andariam de branco com Jesus, mas “alguns”. É esta reserva moral que durante todos os períodos de apostasia é louvado pelo Senhor (cf. 1Rs 19.18; Is 1.9; Ez capítulo 9; Rm capítulo 11). Àqueles que não “contaminaram seus vestidos”, Jesus os chamou de “dignos”. Este elogio parece único nas sete Igrejas da Ásia Menor; e só foi dito às pessoas fiéis da igreja de Sardes, pois todo o restante dela estava morto.
5. “O que vencer será vestido de vestes brancas, e de maneira nenhum riscarei o seu nome do livro da vida; e confessarei o seu nome diante de meu Pai e diante dos seus anjos”.
I. “...Livro da Vida”. Referências bíblicas ao “Livro da Vida” se acham em (Êx 32.33; Sl 69.28; Dn 12.1; Fl 4.3. Também se pode comparar isso com trechos como Lucas 10.20 e Hebreus 12.23). Passagens similares sobre o mesmo assunto podem ser vistas em (Dn 7.10; Ap 13.8 e 20.12, 15). Há referências nos escritos pagãos às idéias contidas neste versículo. Dentro da astrologia babilônica, poderíamos considerar o próprio Zodíaco como o livro ou tabletes sobre os quais eram escritos a vontade divina e o destino humano.
1. E confessarei o seu nome. A presente passagem lembra o que disse Jesus a seus discípulos: “Portanto, qualquer que me confessar diante dos homens eu o confessarei diante de meu Pai, que está nos céus” (Mt 10.32). Isto é, “testificar que pertence a Mim”. No final das contas, o discipulado secreto é impossível, pois depois da Morte de Cristo, não é mais aceito essa maneira de proceder (Jo 19.38). No contexto de Mateus 10.34 e 39, esta confissão pública de fé em Cristo acarreta divisões e conflitos, primeiramente na vida da família, depois do mundo.
6. “Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas”.
I. “...Quem tem ouvidos”. A presente recomendação da parte de Cristo é feita também nos Evangelhos (Mateus e Marcos), sobre a forma: “Quem tem ouvidos para ouvir, ouça” (Mt 13.9, 43 e Mc 4.23, etc). No texto em foco, a recomendação é feita a todas as igrejas, e se repete nos capítulos 2 e 3 por sete vezes (2.7, 11, 17, 29; 3.6, 13, 22). Os “ouvidos” de um homem são a sua sensibilidade espiritual, e o seu “ouvir” é o uso dos meios espirituais que produzem mudanças em seu íntimo, conforme se vê exigido nas advertências e promessas anteriores. A expressão, no dizer de Vincent: “...é usada sempre acerca de verdades radicais, grandes princípios básicos e grandes promessas”. As sete cartas deveriam ser “lidas” nas igrejas (Ap 1.3). Poucas pessoas poderiam “lê-las” pessoalmente, mas todos poderiam “ouvir” a leitura dessas instruções. “O ouvido que ouve! Um dos mais solenes estudos da Bíblia inteira é aquele concernente ao “ouvido que ouve” (Alford, in loc).
Extraído do livro “Apocalipse Versículo por Versículo" (de Severino Pedro da Silva)
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