sexta-feira, 31 de outubro de 2025

LIÇÃO 9: INRI — JESUS NAZARENO, REI DOS JUDEUS

 Subsídios para a Escola Bíblica Dominical (EBD) — IPAD (Igreja Pentecostal Assembleia de Deus)

 

 

LEITURA TEMÁTICA: MATEUS 27:37

“E por cima da sua cabeça puseram escrita a sua acusação: ESTE É JESUS, O REI DOS JUDEUS.”

 

LEITURA EM CLASSE: JOÃO 19:19–22

“E Pilatos escreveu também um título, e pô-lo em cima da cruz; e nele estava escrito: JESUS NAZARENO, REI DOS JUDEUS. E muitos dos judeus leram este título, porque o lugar onde Jesus foi crucificado era próximo da cidade; e estava escrito em hebraico, em grego e em latim. Disseram, pois, os principais dos sacerdotes dos judeus a Pilatos: Não escrevas: O Rei dos Judeus; mas que ele disse: Sou Rei dos Judeus. Respondeu Pilatos: O que escrevi, escrevi.”

 

SÍNTESE TEXTUAL

A inscrição “INRI” (Iesus Nazarenus Rex Iudaeorum) colocada sobre a cruz de Cristo não era apenas uma ironia romana, mas uma proclamação divina. O que os homens escreveram como zombaria, Deus usou como testemunho eterno da realeza messiânica de Jesus. Ele é o Rei prometido, descendente de Davi, o Messias esperado, e o Senhor exaltado sobre todos os reis da terra.

 

INTRODUÇÃO

A cruz, símbolo de vergonha e morte, tornou-se o trono do verdadeiro Rei. Pilatos, sem compreender plenamente, proclamou uma verdade teológica profunda: Jesus é o Rei dos judeus e Senhor de toda a criação.

  • Isaías 9:6-7

“Porque um Menino nos nasceu, um Filho se nos deu; e o principado está sobre os seus ombros... Do aumento do seu governo e da paz não haverá fim, sobre o trono de Davi e no seu reino.”

  • Salmos 2:6

“Eu, porém, ungi o meu Rei sobre o meu santo monte Sião.”

  • Apocalipse 19:16

“E no manto e na sua coxa tem escrito este nome: REI DOS REIS E SENHOR DOS SENHORES.”

Comentário teológico:

A realeza de Cristo é espiritual e eterna, distinta das monarquias humanas. Ele reina não com espada, mas com amor e justiça (João 18:36). O título “Rei dos judeus” indica o cumprimento das profecias messiânicas que apontavam para o Filho de Davi, cujo trono não teria fim.

 

PONTO 1 — O REI

Subponto 1.1 — O Rei prometido nas Escrituras

  • Jeremias 23:5

“Eis que vêm dias, diz o Senhor, em que levantarei a Davi um Renovo justo; e, sendo Rei, reinará e prosperará, e executará juízo e justiça na terra.”

  • Zacarias 9:9

“Alegra-te muito, ó filha de Sião; eis que o teu Rei virá a ti, justo e salvador, pobre, e montado sobre um jumento.”

  • Isaías 32:1

“Eis que reinará um rei com justiça, e dominarão os príncipes segundo o juízo.”

Comentário teológico:

Essas profecias se cumprem plenamente em Jesus. Sua realeza não é política, mas teocrática e redentora. O “Renovo” de Davi representa a restauração da esperança de Israel e a vitória do governo de Deus sobre as trevas.

 

Subponto 1.2 — O Rei que governa com justiça e graça

  • Salmos 45:6-7

“O teu trono, ó Deus, é eterno e perpétuo; o cetro do teu reino é um cetro de equidade.”

  • Mateus 28:18

“É-me dado todo o poder no céu e na terra.”

  • Colossenses 1:13-14

“O qual nos tirou da potestade das trevas, e nos transportou para o reino do Filho do seu amor.”

Comentário teológico:

Cristo é o Rei do Reino espiritual, onde prevalece a justiça e a graça. Seu governo é perfeito porque emana da santidade de Deus. A realeza de Jesus se manifesta no domínio sobre o pecado e a morte, conduzindo os redimidos a uma nova realidade espiritual.

 

Subponto 1.3 — O Rei coroado com espinhos

  • Mateus 27:29

“E, tecendo uma coroa de espinhos, puseram-lha na cabeça e uma cana na mão direita; e, ajoelhando-se diante dele, o escarneciam, dizendo: Salve, Rei dos judeus!”

  • Filipenses 2:8-9

“Sendo obediente até à morte, e morte de cruz. Pelo que Deus o exaltou soberanamente e lhe deu um nome que é sobre todo o nome.”

  • Hebreus 2:9

“Vemos, porém, coroado de glória e de honra aquele Jesus, que fora feito um pouco menor que os anjos, por causa da paixão da morte.”

Comentário teológico:

A coroa de espinhos, símbolo da dor e da maldição (Gênesis 3:18), tornou-se símbolo da vitória redentora. A humilhação do Rei é a exaltação do Salvador. A teologia da cruz mostra que o caminho da glória passa pela obediência e pelo sofrimento.

 

SUBSÍDIO 1 — O REI

“A realeza de Jesus não se limita à esfera política, como imaginaram os judeus, nem se restringe a um trono terreno. Ele é Rei porque em sua pessoa se manifesta o governo soberano de Deus sobre todas as coisas. O Reino de Cristo é espiritual, eterno e justo, estabelecido não por armas, mas pela cruz. É o domínio do amor divino que liberta o homem do pecado e o conduz à reconciliação com o Pai. Por isso, Jesus pôde dizer a Pilatos: ‘O meu Reino não é deste mundo’ (João 18.36), revelando que sua autoridade provém do alto e não dos homens.” (HORTON, Stanley M. Teologia Sistemática: Uma Perspectiva Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 1996, p. 250).

  

PONTO 2 — JESUS VEM DA DESCENDÊNCIA DE DAVI

Subponto 2.1 — A promessa davídica

  • 2 Samuel 7:12-13

“Levantarei depois de ti a tua descendência, que procederá de ti, e estabelecerei o seu reino. Este edificará uma casa ao meu nome, e confirmarei o trono do seu reino para sempre.”

  • Salmos 89:3-4

“Fiz uma aliança com o meu escolhido, jurei ao meu servo Davi: para sempre estabelecerei a tua descendência.”

  • Lucas 1:32-33

“Este será grande, e será chamado Filho do Altíssimo; e o Senhor Deus lhe dará o trono de Davi, seu pai.”

Comentário teológico:

Jesus cumpre a aliança davídica, sendo o herdeiro legítimo do trono eterno. Sua genealogia, conforme Mateus 1, comprova a fidelidade de Deus em manter sua promessa. O trono de Davi encontra sua plenitude no governo espiritual de Cristo.

 

Subponto 2.2 — O Messias esperado

  • Miqueias 5:2

“E tu, Belém Efrata, posto que pequena entre milhares de Judá, de ti me sairá o que governará em Israel, cujas saídas são desde os tempos antigos.”

  • Mateus 2:1-2

“Onde está aquele que é nascido Rei dos judeus? porque vimos a sua estrela no oriente.”

  • João 7:42

“Não diz a Escritura que o Cristo vem da descendência de Davi, e de Belém, aldeia de onde era Davi?”

Comentário teológico:

Cristo é o cumprimento escatológico da esperança messiânica. Os magos do Oriente reconheceram a realeza do Menino-Rei. Sua origem humilde contrasta com a majestade de seu propósito: reinar eternamente.

 

Subponto 2.3 — O Reino de Davi restaurado em Cristo

  • Atos 15:16

“Depois disto voltarei, e reedificarei o tabernáculo de Davi, que está caído.”

  • Romanos 1:3-4

“Acerca de seu Filho, que nasceu da descendência de Davi segundo a carne, e foi declarado Filho de Deus com poder.”

  • Apocalipse 5:5

“Eis aqui o Leão da tribo de Judá, a raiz de Davi, que venceu.”

Comentário teológico:

Em Cristo, o trono de Davi é universalizado: não limitado a Israel, mas aberto a todas as nações. A teologia cristológica mostra que Jesus é a raiz e o fruto de Davi — origem e cumprimento das promessas.

 

SUBSÍDIO 2 — JESUS VEM DA DESCENDÊNCIA DE DAVI

“O título ‘Filho de Davi’ dado a Jesus demonstra o cumprimento das promessas messiânicas feitas ao rei Davi. Em 2 Samuel 7.12-13, Deus promete um descendente cujo trono seria estabelecido para sempre. Mateus 1.1 confirma: ‘Livro da genealogia de Jesus Cristo, filho de Davi, filho de Abraão’. Assim, a encarnação de Cristo liga o antigo pacto davídico ao novo, cumprindo a expectativa messiânica de Israel. A realeza de Jesus, portanto, é legítima, pois Ele é o herdeiro do trono prometido e o Messias esperado que uniria o povo de Deus sob o seu governo eterno.” (PFEIFFER, Charles F.; HARRISON, Everett F. Comentário Bíblico Moody. São Paulo: Editora Batista Regular, 2002, p. 1123).

 

 

PONTO 3 — INRI: JESUS NAZARENO, O REI DOS JUDEUS

Subponto 3.1 — O título da cruz

  • João 19:19

“E Pilatos escreveu também um título, e pô-lo em cima da cruz; e nele estava escrito: JESUS NAZARENO, REI DOS JUDEUS.”

  • Isaías 52:13-14

“Eis que o meu servo procederá com prudência; será exaltado, e elevado, e mui sublime.”

  • Salmos 22:7-8

“Todos os que me veem zombam de mim, estendem os lábios e meneiam a cabeça.”

Comentário teológico:

Pilatos, ainda que por ironia, proclamou uma verdade eterna. O madeiro da vergonha se tornou o trono da redenção. O título “INRI” é uma confissão involuntária de fé: Jesus é o Rei verdadeiro, reconhecido até por seus inimigos.

 

Subponto 3.2 — Escrito em hebraico, grego e latim

  • João 19:20

“Estava escrito em hebraico, em grego e em latim.”

  • Filipenses 2:10-11

“Para que ao nome de Jesus se dobre todo o joelho, dos que estão nos céus, e na terra, e debaixo da terra.”

  • Salmos 86:9

“Todas as nações que fizeste virão e se prostrarão perante a tua face, Senhor.”

Comentário teológico:

Essas três línguas simbolizam o reino universal de Cristo:

  • Hebraico → fé e revelação;
  • Grego → sabedoria e cultura;
  • Latim → poder e império.

A cruz, escrita nessas línguas, declara que Jesus é Rei de todos os povos e raças, não apenas dos judeus.

 

Subponto 3.3 — O Rei exaltado e glorificado

  • Filipenses 2:9-11

“Pelo que Deus o exaltou soberanamente e lhe deu um nome que é sobre todo o nome.”

  • Apocalipse 11:15

“O reino do mundo passou a ser de nosso Senhor e do seu Cristo, e ele reinará para todo o sempre.”

  • Daniel 7:13-14

“Foi-lhe dado domínio, e glória, e o reino, para que todos os povos o servissem.”

Comentário teológico:

O título na cruz antecipa a exaltação gloriosa de Cristo. Aquele que foi coroado com espinhos é agora coroado de glória. O “INRI” é o selo de sua soberania eterna. Ele reina sobre os corações dos remidos e reinará visivelmente na consumação dos tempos.

 

SUBSÍDIO 3 — INRI: JESUS NAZARENO, O REI DOS JUDEUS

“A inscrição colocada por Pilatos sobre a cruz — ‘Jesus Nazareno, Rei dos Judeus’ (João 19.19) —, embora tivesse a intenção de ridicularizar, proclamou uma verdade teológica profunda: mesmo em sua humilhação, Jesus era reconhecido como Rei. A cruz não anulou sua realeza, antes a revelou em plenitude, pois ali Ele reinou pela entrega e pela obediência. O título INRI é o testemunho de que o Cristo crucificado é o verdadeiro Rei de Israel e o Salvador do mundo. Assim, o símbolo da vergonha tornou-se o estandarte da vitória eterna.” (STOTT, John. A Cruz de Cristo. São Paulo: Editora Vida, 2003, p. 72).

 

 

CONCLUSÃO

O “INRI” inscrito na cruz é mais que uma acusação: é uma profecia cumprida.
Jesus é o Rei prometido, o Filho de Davi, o Senhor exaltado.

Deus transformou o instrumento de morte em um símbolo de realeza e redenção.

  • Apocalipse 1:5-6

“A Jesus Cristo, que é a fiel testemunha, o primogênito dos mortos e o príncipe dos reis da terra.”

  • Salmos 24:7-10

“Levantai, ó portas, as vossas cabeças... Entrará o Rei da Glória. Quem é este Rei da Glória? O Senhor dos Exércitos, ele é o Rei da Glória.”

  • 1 Timóteo 6:15-16

“O bem-aventurado e único poderoso Senhor, Rei dos reis e Senhor dos senhores.”

Comentário teológico final:

O “Rei dos judeus” é, de fato, o Rei dos reis. O trono da cruz é o centro da história da redenção. Ali se revelam a justiça, o amor e o poder soberano de Deus. A mensagem do “INRI” ecoa pelos séculos, convidando todos a se renderem ao verdadeiro Rei — Jesus Cristo, o Senhor da Glória.

 

 

 

REFERÊNCIAS:

 

BERGSTEN, Eurico. Teologia Sistemática. 13. impr. Rio de Janeiro: CPAD, 2013.

BÍBLIA. Português. Bíblia de Estudo Aplicação Pessoal. Rio de Janeiro: CPAD, 2004.

BÍBLIA. Português. Bíblia de Estudo Matthew Henry. Rio de Janeiro: Editora Central Gospel, 2016.

BÍBLIA. Português. Bíblia de Estudo Palavras-Chave. Hebraico-Grego. Rio de Janeiro: CPAD, 2011.

BÍBLIA. Português. Bíblia de Estudo Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 2005.

BÍBLIA. Português. Nova Versão Internacional - NVI. São Paulo: VIDA, 2000.

BOYER, Orlando. Pequena Enciclopédia Bíblica. Rio de Janeiro: CPAD, 2008.

GEISLER, Norman. Teologia Sistemática (vol. 2). Rio de Janeiro: CPAD, 2017.

GILBERTO, Antonio. Bíblia com Comentário de Antonio Gilberto. 1. ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2021.

PEDRO, Severino. A Doutrina do Pecado. 1. ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2012.

RENOVATO, Elinaldo in Teologia Sistemática Pentecostal. 1. ed. (16a imp.) Rio de Janeiro: CPAD, 2021.

RIBAS, Degmar (Trad.). Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal. Rio de Janeiro: CPAD, 2009, vol. 2.

SILVA, Severino Pedro da. O Homem. Corpo, Alma e Espírito. 1. ed. Rio de Janeiro: CPAD, 1988.

VINE, W. E., UNGER, Menil E & WHITEJR., Willian. Dicionário Vine. 2. ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2023.

LIÇÃO 5: A ALMA — A NATUREZA IMATERIAL DO SER HUMANO

 

SUBSÍDIOS PARA A ESCOLA BÍBLICA DOMINICAL (EBD) DA CPAD


4º Trimestre/2025

 

TEXTO ÁUREO

 

E não temais os que matam o corpo e não podem matar a alma; temei, antes, aquele que pode fazer perecer no inferno a alma e o corpo.” (Mt 10.28).

 

VERDADE PRÁTICA

 

Cuidar da alma é uma atitude fundamental para uma vida cristã estável e uma eternidade de alegria e paz.

 

LEITURA BÍBLICA EM CLASSE

 

Gênesis 1.27,28; 2.15-17; Mateus 10.28.

 

Gênesis 1

27 — E criou Deus o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou; macho e fêmea os criou.

28 — E Deus os abençoou e Deus lhes disse: Frutificai, e multiplicai-vos, e enchei a terra, e sujeitai-a; e dominai sobre os peixes do mar, e sobre as aves dos céus, e sobre todo o animal que se move sobre a terra.

 

Gênesis 2

15 — E tomou o Senhor Deus o homem e o pôs no jardim do Éden para o lavrar e o guardar.

16 — E ordenou o Senhor Deus ao homem, dizendo: De toda árvore do jardim comerás livremente,

17 — mas da árvore da ciência do bem e do mal, dela não comerás; porque, no dia em que dela comeres, certamente morrerás.

 

Mateus 10

28 — E não temais os que matam o corpo e não podem matar a alma; temei, antes, aquele que pode fazer perecer no inferno a alma e o corpo.

 

COMENTÁRIO

 

INTRODUÇÃO

Na lição anterior, estudamos a constituição tricotômica do ser humano: corpo, alma e espírito (1Ts 5.23). Nesta, voltamo-nos especialmente para a alma, centro da personalidade humana e sede das emoções, da vontade e do intelecto. É através dela que o homem pensa, sente e decide. Assim, compreendemos que o ser humano é mais do que matéria: é uma alma vivente criada à imagem e semelhança de Deus (Gn 1.26-27).

O salmista expressa bem essa realidade ao declarar: “Bendize, ó minha alma, ao Senhor, e tudo o que há em mim bendiga o seu santo nome” (Sl 103.1). Essa interação entre corpo, alma e espírito reflete a totalidade do ser humano diante de Deus. Estudar a alma, portanto, é compreender a parte mais profunda do nosso ser e como ela pode ser restaurada pela graça divina.

 

Palavra-Chave: ALMA

 

I. ATRIBUTOS DA ALMA

1. De volta ao Gênesis

Quando Deus formou o homem do pó da terra e soprou em suas narinas o fôlego da vida, o homem “tornou-se alma vivente” (Gn 2.7). Nesse ato divino, vemos que a alma é o resultado direto da união entre o corpo físico e o sopro espiritual vindo de Deus.

O ser humano, portanto, possui algo que nenhum outro ser criado tem: autoconsciência, racionalidade e senso moral (Sl 8.4-6). Adão, como representante da humanidade, foi dotado de mente criadora, linguagem articulada e capacidade de escolha — dons que revelam a imagem divina refletida em sua alma.

A diferença entre o homem e os animais não está apenas na inteligência, mas na dimensão espiritual que permite conhecer e adorar o Criador. É por isso que o homem, mesmo cercado de tudo no Éden, não encontrou realização sem comunhão espiritual — razão pela qual Deus disse: “Não é bom que o homem esteja só” (Gn 2.18). A alma humana foi criada para se relacionar — primeiro com Deus, depois com o próximo.

Comentário teológico: A alma humana não é autônoma em si mesma. Sua plenitude depende da presença divina. Sem Deus, a alma se torna um vazio ambulante, incapaz de encontrar propósito.

 

2. Entre o espírito e o corpo

A alma é o elo mediador entre o espírito (que se relaciona com Deus) e o corpo (que se relaciona com o mundo). É nela que habitam os sentimentos, pensamentos e decisões. Por meio da alma, o homem expressa sua individualidade e identidade pessoal (Jó 7.15; Sl 42.1-2).

Os atributos principais da alma — emoção, razão e vontade — se manifestam tanto na adoração quanto na convivência humana. Jesus expressou tristeza de alma (Mt 26.38), raciocinou com clareza divina (Lc 2.46-47) e exerceu vontade submissa ao Pai (Mt 26.39). Assim, Cristo revelou o perfeito equilíbrio da alma santificada.

O cântico de Maria (Lc 1.46-47) também mostra essa harmonia: “A minha alma engrandece ao Senhor, e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador.” O louvor brota da alma que se move pelo espírito, e se manifesta pelo corpo. Essa é a integração da vida cristã — adorar com todo o ser.

Comentário teológico: O cristianismo não é apenas fé racional nem emoção descontrolada; é a rendição integral da alma ao senhorio de Cristo (Mt 22.37).

 

3. A alma abatida

Mesmo os servos de Deus experimentam momentos de abatimento da alma. O salmista confessa: “Por que estás abatida, ó minha alma? Espera em Deus” (Sl 42.5). Essa introspecção mostra que a alma pode se desalinhar espiritualmente, mas também pode ser restaurada pela esperança no Senhor (Sl 43.5).

A alma abatida reflete o conflito interior entre o espírito que busca a presença de Deus e a carne que sente as dores do mundo. O profeta Elias, por exemplo, desejou a morte em um momento de profunda exaustão (1Rs 19.4), mas Deus restaurou sua alma com alimento e nova direção.

Em Cristo encontramos o verdadeiro refrigério: “Vinde a mim... e encontrareis descanso para as vossas almas” (Mt 11.28-29). A alma cansada precisa aprender a descansar em Deus, pois Ele é quem renova as forças e traz alívio espiritual.

Comentário teológico: A alma abatida é o campo de batalha da fé. É ali que a confiança em Deus vence as emoções desordenadas e reafirma a soberania divina sobre nossos sentimentos.

 

SINOPSE I

A alma é a sede das emoções, da razão e da vontade — o centro da personalidade humana que reflete a imagem moral e racional de Deus.

 

II. A NATUREZA DA ALMA: IMATERIALIDADE E IMORTALIDADE

1. Distinção de substâncias

Jesus ensina: “Não temais os que matam o corpo e não podem matar a alma; temei antes aquele que pode fazer perecer no inferno a alma e o corpo” (Mt 10.28). Esse texto evidencia a distinção entre o corpo material e a alma imaterial.

Enquanto o corpo pode perecer, a alma permanece consciente após a morte (Lc 16.22-23). A Bíblia apresenta a alma e o espírito como distintas, porém inseparáveis (Hb 4.12). Ambos compõem o ser interior, o “homem oculto do coração” (1Pe 3.4).

Comentário teológico: O materialismo nega essa realidade, reduzindo o homem a processos biológicos. Mas a revelação bíblica afirma que o ser humano é mais do que pó — é alma vivente e eterna.

 

2. Imaterialidade e responsabilidade pessoal

A alma, sendo imaterial, é também responsável moralmente diante de Deus. Cada indivíduo responderá pessoalmente pelos atos praticados em vida (Rm 14.12). Nenhuma ideologia humana pode apagar essa verdade.

Teorias filosóficas e políticas, como o materialismo dialético, tentam atribuir o mal apenas à estrutura social, negando a culpa pessoal. Mas a Escritura ensina que “todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus” (Rm 3.23). O pecado não é um problema coletivo, mas espiritual e individual.

A alma consciente é chamada ao arrependimento pessoal (At 3.19). Negar a imortalidade da alma é negar também a necessidade da redenção e da vida eterna (Jo 3.16-18).

Comentário teológico: Uma teologia sem a alma imortal é uma fé sem eternidade. O Evangelho não é sociologia — é a salvação da alma pela cruz de Cristo.

 

3. Materialismo e teologia

A infiltração de ideias materialistas na teologia moderna tem produzido sérias distorções. Correntes como a Teologia da Libertação e a Missão Integral enfatizam apenas a transformação social, esquecendo-se da regeneração da alma (Jo 3.3).

O Evangelho genuíno não ignora a justiça social, mas coloca a salvação do homem interior como prioridade (Mt 16.26). A missão da Igreja é pregar arrependimento e fé em Cristo, não substituir o Evangelho pela política.

Comentário teológico: Quando a teologia deixa de cuidar da alma e se torna militância ideológica, ela perde sua essência espiritual e deixa de ser o Evangelho de poder (Rm 1.16).

 

SINOPSE II

A alma é imaterial e imortal, distinta do corpo, e permanecerá consciente após a morte, sendo responsável diante de Deus.

 

III. ALMA RENOVADA E SUBMISSA A DEUS

1. Edificação e saúde

O equilíbrio da vida cristã depende da saúde da alma. João ora: “Desejo que te vá bem em todas as coisas e que tenhas saúde, assim como bem vai a tua alma” (3Jo 2).

A alma saudável é aquela alimentada pela Palavra e pela oração. A ansiedade, o medo e o desânimo são curados quando lançamos sobre Deus toda a nossa preocupação (1Pe 5.7). A paz de Cristo guarda os sentimentos e pensamentos dos que confiam n’Ele (Fp 4.6-7).

Comentário teológico: A alma não se fortalece com distrações, mas com devoção. O Espírito Santo é o verdadeiro médico da alma, e a Palavra é o remédio da fé.

 

2. Purificação e renovação

A alma precisa ser purificada diariamente da contaminação do pecado. “Purificando as vossas almas na obediência à verdade...” (1Pe 1.22). Essa purificação ocorre mediante a Palavra de Deus e o poder do Espírito Santo (Jo 15.3; Ef 4.23-24).

A renovação da alma é o processo contínuo de santificação, no qual a mente é transformada e conformada à vontade de Deus (Rm 12.2). A graça que salvou também santifica, levando o crente a vencer desejos carnais e paixões desordenadas (Gl 5.16-17).

Comentário teológico: A santificação não é opcional; é o caminho da alma que foi justificada e agora anseia pela glória futura (1Ts 4.3).

 

SINOPSE III

A alma regenerada é aquela que se purifica e se renova continuamente pela obediência à verdade, vivendo em santidade e comunhão com Deus.

 

CONCLUSÃO

A vida cristã é um constante processo de santificação da alma. O crente deve vigiar seus pensamentos, sentimentos e desejos, rejeitando tudo o que contamina (2Co 7.1). A pureza da alma é mantida pela submissão ao Espírito Santo e pela meditação constante na Palavra.

Como dizia Martinho Lutero: “Não podemos impedir que os pássaros voem sobre a nossa cabeça, mas podemos impedir que façam ninho nela.” Assim também é com o pecado: não podemos evitar as tentações, mas podemos impedir que se tornem hábito na alma.

A alma que permanece em Cristo encontrará descanso, pureza e plenitude até alcançar a estatura completa de Cristo (Ef 4.13).

 

SUBSÍDIOS ENSINADOR CRISTÃO

A ALMA — A NATUREZA IMATERIAL DO SER HUMANO

 

Nesta lição, estudaremos sobre a alma, parte imaterial que constitui o ser humano. A alma é o centro da razão, da emoção e da vontade. Tudo o que somos, pensamos e fazemos é decorrente da nossa alma. Isso inclui a formação do nosso caráter. Além de compreendermos os atributos da alma, precisamos nos ater aos cuidados que devemos ter com a saúde dela. A Palavra de Deus nos adverte: “Sobre tudo o que se deve guardar, guarda o teu coração, porque dele procedem as saídas da vida” (Pv 4.23). Nesta passagem, como em outras do Antigo Testamento, a expressão “coração” vem do hebraico leb e significa o ser interior, a mente, o lugar dos desejos, das emoções e paixões humanas. O conselho de Provérbios para o servo de Deus é ter cautela e não permitir que os enganos da natureza humana superem o compromisso com a Palavra de Deus. Nesse sentido, todo aquele que deseja fazer a vontade de Deus, deve submeter sua alma (coração) à disciplina pautada pelas Escrituras Sagradas, e não por sua vontade própria. Jesus ensinou: “Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, e tome cada dia a sua cruz, e siga-me” (Lc 9.23). Logo, a alma humana, enquanto local de vontades e desejos, tenderá a buscar as coisas que mais lhe agradam e trazem conforto. Isso, muitas vezes, entra em oposição com a vontade de Deus, que é boa, agradável e perfeita (cf. Rm 12.2).

Ainda de acordo com o Dicionário Vine (CPAD): “O ‘coração’ é o lugar da consciência e do caráter moral. Como é que a pessoa responde à revelação de Deus e do mundo que o cerca? Jó responde: ‘Não me remorderá o meu coração em toda a minha vida’ (Jó 27.6). No lado oposto, ‘o coração doeu a Davi’ (2Sm 24.10). O ‘coração’ é a fonte das ações humanas: ‘Em sinceridade do coração e em pureza das minhas mãos, tenho feito isto’ (Gn 20.5,6). Davi andou ‘em verdade, e em justiça, e em retidão de coração’ (1Rs 3.6) e Ezequias andou ‘com coração perfeito’ (Is 38.3) diante de Deus. ‘Só aquele que é limpo de mãos e puro de coração’ (Sl 24.4) pode ficar na presença de Deus. [...] O ‘coração’ representa o ser interior do homem, o próprio homem. Neste sentido, é a fonte de tudo o que ele faz (Pv 4.4). Todos os seus pensamentos, desejos, palavras e ações fluem do fundo do seu ser. Contudo, o homem não pode entender o próprio ‘coração’ (Jr 17.9). À medida que o homem prossegue em seu próprio caminho, seu ‘coração’ fica cada vez mais duro. Mas Deus circuncidará (cortará a impureza de) o ‘coração’ do seu povo, de forma que ele venha a amá-lo e obedecê-lo de todo o seu ser (Dt 30.6)” (2015, pp.83,84). Isto posto, que nosso coração seja nutrido com as virtudes do Espírito Santo, de modo que tenhamos razão, sentimento e vontade guiados por Deus.

 

SUBSÍDIOS 2 — A IMORTALIDADE DA ALMA E A CONSCIÊNCIA PÓS-MORTE

Ao estudar a natureza da alma, é indispensável compreender que ela não apenas é imaterial, mas também imortal. A morte física, descrita nas Escrituras como a separação entre corpo e alma, não significa aniquilação do ser, e sim transição de estado. Jesus afirmou com clareza: “Não temais os que matam o corpo e não podem matar a alma” (Mt 10.28).

Desde o Antigo Testamento, a consciência da alma após a morte é reconhecida. Quando Raquel morreu, “saiu-lhe a alma” (Gn 35.18), indicando a continuidade da vida interior fora do corpo. Em 1 Reis 17.21-22, Elias orou para que a alma do menino voltasse a ele — e o texto diz que “a alma do menino tornou a entrar nele, e reviveu”. Isso mostra que a alma é distinta do corpo, mas permanece viva e consciente mesmo depois que o corpo morre.

O próprio Jesus, ao contar a parábola do rico e Lázaro (Lc 16.19-31), descreveu ambos em plena consciência no além — o primeiro em tormento, e o segundo consolado no seio de Abraão. Essa passagem revela a realidade da vida consciente após a morte, e refuta doutrinas que negam a existência da alma imortal, como o aniquilacionismo e o materialismo ateísta.

O apóstolo Paulo reforça essa certeza quando diz: “Desejo partir e estar com Cristo, o que é muito melhor” (Fp 1.23). Ele não fala de cessação da existência, mas de continuidade da comunhão espiritual em outra dimensão. A imortalidade da alma é, portanto, uma verdade revelada e uma garantia da nossa esperança escatológica (2Co 5.1-8).

Aplicação teológica:

A imortalidade da alma é o fundamento da responsabilidade moral do homem diante de Deus. O juízo eterno só é possível porque a alma é eterna. Essa consciência deve despertar em cada crente o temor do Senhor e o desejo de viver em santidade, pois “importa que todos nós compareçamos ante o tribunal de Cristo” (2Co 5.10).

Reflexão pessoal: A morte física não é o fim do ser humano; é o início de sua eternidade consciente. Quem vive cuidando da alma com base na Palavra viverá eternamente com Cristo. Quem a despreza colherá separação eterna. Por isso, cuidar da alma é o mais alto dever espiritual do crente.

 

SUBSÍDIOS 3 — A RESTAURAÇÃO E O CUIDADO ESPIRITUAL DA ALMA

A alma é o centro das decisões, das emoções e da moralidade do homem, e por isso requer cuidado e restauração constante. O salmista testifica: “Refrigera a minha alma; guia-me pelas veredas da justiça, por amor do seu nome” (Sl 23.3). Aqui, a palavra “refrigera” vem do hebraico shûb, que significa restaurar, renovar, trazer de volta à vida. Assim, Davi reconhece que sua alma, mesmo sendo justa diante de Deus, precisava ser continuamente restaurada pela ação do Pastor Divino.

A alma humana é profundamente afetada pelo pecado. Desde a queda, o homem vive um conflito entre o desejo da carne e a vontade de Deus (Rm 7.22-24). As paixões desordenadas, os ressentimentos, a inveja e o orgulho são enfermidades da alma que corrompem o relacionamento com Deus e com o próximo. Somente o Espírito Santo pode curar e santificar o interior humano (Sl 51.10-12).

Comentário teológico:

A restauração da alma é uma obra progressiva da graça. O Espírito Santo age por meio da Palavra, da oração e da comunhão cristã para alinhar os sentimentos e pensamentos humanos com a vontade divina (Tg 1.21; Fp 4.7-8). Quando a alma é transformada, a mente é renovada, e o homem passa a experimentar “a boa, agradável e perfeita vontade de Deus” (Rm 12.2).

A saúde da alma está diretamente ligada à prática espiritual diária. O apóstolo Pedro aconselha: “Purificando as vossas almas na obediência à verdade, para o amor fraternal não fingido” (1Pe 1.22). Isso significa que a obediência à verdade não é apenas uma questão de comportamento exterior, mas de pureza interior. A alma purificada reflete o caráter de Cristo, expressando amor, perdão e mansidão.

Aplicação pessoal:

Muitos crentes cuidam do corpo com disciplina, mas negligenciam a alma com descuido. Todavia, a alma é o verdadeiro campo da santificação. Devemos nutrir a mente com a Palavra, guardar o coração de mágoas e vigiar as vontades diante das tentações. A oração e o jejum são práticas que fortalecem a alma contra as pressões do mundo.

Reflexão espiritual:

A alma que se alimenta da presença de Deus torna-se estável, firme e saudável. Quando a alma é dominada pela carne, o homem se torna escravo de suas paixões; mas quando ela é guiada pelo Espírito, o homem experimenta liberdade e paz (Rm 8.5-6). Que o Espírito Santo restaure em nós a alma cansada e nos ensine a viver em completa dependência de Cristo, o “Pastor e Bispo das nossas almas” (1Pe 2.25). 

 

 

 

REFERÊNCIAS:

 

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