Roberto de Queiroz
Surpreende-me o fato de Janguiê Diniz, em artigo publicado no Jornal do Commercio (11/01/2008), afirmar que 58% dos professores do Brasil trabalham em uma única escola e apenas 9% trabalham em três. Ora, não se é preciso fazer pesquisa alguma para atestar que a maioria dos professores do País trabalha em mais de uma escola. Surpreende-me ainda o fato de Janguiê dizer que a categoria não é vítima da discriminação salarial, pois leva vantagem em relação a outros países. Inclusive, em relação aos países da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
E ele não pára por aí. Não se esquece de mencionar, também, as “vantagens” da profissão. E prossegue: “Diferentemente dos profissionais das demais categorias, os professores gozam de férias longas [...] e regime especial de aposentadoria” (acho que ele confundiu os professores com os políticos). Na conclusão Janguiê desabafa: “Diante dos fatos, é inadmissível perpetuar a idéia de que o professor é um herói da educação”. É claro que não! O professor é um profissional e, portanto, deve ser tratado como tal.
Assim, é oportuno confrontar a opinião de Janguiê com a da educadora e pesquisadora Tania Zagury, no livro titulado O professor refém (2006). Ali, Tania retrata a realidade em que vivem atualmente os professores brasileiros. A obra de Tania é resultado de uma pesquisa que durou três anos e compilou a opinião de 1.172 professores da educação básica, de escolas das redes públicas e privadas de 42 cidades, em 22 estados do País.
Diferentemente de Janguiê, Tania assegura que a maioria os professores brasileiros tem uma formação inconsciente, porque lhe falta tempo e recursos financeiros para estudar. Sem tempo para estudar nem para planejar, são obrigados a dar aulas em mais de uma escola, e em salas superlotadas, para poder sobreviver.
Segundo essa autora, além dos problemas supracitados, os professores enfrentam dificuldades para manter a disciplina, motivar os alunos, avaliar de forma adequada, manter-se atualizados e escolher a metodologia adequada. Ainda de acordo com ela, “o magistério é uma das profissões que mais tiveram aumento de tarefas nos últimos tempos”. Por isso, o professor “está ficando estressado, deprimido, e isso faz com que se torne refém da estrutura educacional”.
Faço minhas as palavras dela. O mais é dichote. Por hoje, chega de prosa.
Artigo publicado no Jornal do Commercio, Recife, 19/01/2008, Opinião, p. 15.
FONTE: http://blogderobertodequeiroz.blogspot.com/2011/03/professor-nao-e-heroi.html
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