domingo, 14 de agosto de 2011

Subsídio para a escola bíblica dominical. LIÇÃO Nº 08. TÍTULO: “IGREJA – AGENTE TRANSFORMADOR DA SOCIEDADE”.


LIÇÃO Nº 08 - DATA: 21/08/2011
TÍTULO: “IGREJA – AGENTE TRANSFORMADOR DA SOCIEDADE”
TEXTO ÁUREO: MC 2.17
LEITURA BÍBLICA EM CLASSE: MC 2.13-17; AT 2.37-41

INTRODUÇÃO
Jesus é o maior exemplo de como viver em (ou na) sociedade, pois frequentou lugares que se fomos seguir o seu exemplo hoje, para alguns pastores que costumo chamar de radicais, prepotentes, egoístas etc., seria pecado ou escândalo, mas é lembrar o que a Bíblia diz: “Porém, respondendo Pedro e os apóstolos, disseram: Mais importa obedecer a Deus do que aos homens”. (AT 5.29).
Sigamos o exemplo do mestre!

O BANQUETE DOS COBRADORES DE IMPOSTOS,
2.13-17
(MT 9.9-13; LC 5.27-32)

13 De novo, saiu Jesus para juntoa do mar, e toda a multidão vinha ao seu encontro, e ele os ensinava.
14 Quando ia passando, viu a Levi, filho de Alfeub, sentado na coletoria, e disse-lhe: Segue-me! Ele se levantou e o seguiu.
15 Achando-se Jesus à mesac na casa de Levid, estavam juntamente com ele e com seus discípulos muitos publicanose e pecadoresf; porque estes eram em grande número e também o seguiam.
16 Os escribas dos fariseus, vendo-o comer em companhia dos pecadores e publicanos, perguntaram aos discípulos dele: Por que come [e bebe] ele com os publicanos e pecadores?
17 Tendo Jesus ouvido isto, respondeu-lhes: Os sãosg não precisam de médico, e sim os doentes; não vim chamar justos, e sim pecadores.
Para v 15: Is 25.6, Lc 14.16, At 16.15 – Para v 16: Mt 11.19 – Para v 17: Ez 34.16, Lc 4.23, 19.10, 1Tm 1.15

Em relação a tradução
a para aqui não é "ao longo de" (com WB, p 1211), pois a idéia de que Jesus pregara andando, acompanhado da multidão, não só é inverossímil, mas também tem passagens claras como 3.9; 4.1 contra si.
b Como a lista dos apóstolos em 3.18 contém um "Tiago, filho de Alfeu", alguns copistas pensaram ter de corrigir "Tiago" aqui. Schlatter aceita as variantes e acha que se trata de um irmão de Tiago. Nosso relato também não dá a entender que Levi se tornou membro do grupo dos doze, antes seu chamado é entendido como um chamado comum (v 17). Mateus é quem, em sua lista de apóstolos em 10.3, chama o Mateus de "publicano" e tem o nome dele também neste chamado de cobradores de impostos, sem mencionar um pai chamado Alfeu.
c Lit "deitados", o que mostra, como Lc 5.29 conclui, que Levi deu "um grande banquete", pois normalmente comia-se sentado no chão, com as pernas cruzadas. Só em ocasiões festivas usavam-se almofadas com encosto ("mobília", Mc 14.15), para servir-se de mesas baixas, acomodado com conforto (Bill. IV, 611).
d "sua" casa refere-se à de Levi e não de Jesus (como em Lc 5.29), conforme o sentido do texto.
e  telones, de telos (alfândega) e onousthai (comprar), portanto, uma pessoa que compra do Estado direitos de cobrar impostos.
f  Este "e" não diferencia dois grupos de convivas, antes, o segundo termo ("pecadores") define o primeiro: publicanos, ou seja, pecadores. No versículo seguinte a ordem está invertida: pecadores, ou seja, publicanos; todos os convidados pertencem à classe dos cobradores de impostos.
g ischyein, lit ter força, derivado do termo aramaico para ter saúde (como em Lc 5.31).

Observações preliminares
1.  Construção. Alguns comentadores tomam v 13,14 como uma unidade separada e colocam outro título sobre v 15-17. Nós seguimos o ponto de vista de que temos aqui uma descrição única, bem pensada mesmo que ocorrendo em três cenários (junto ao lago, na coletoria, na casa de Levi). Os v 13s servem só de introdução. V 13b não está redigido no tempo verbal comum de narrativa (aoristo) e está totalmente aberto para a frente. O v 14 só dá formalmente os dados essenciais de um chamado, e menciona a palavra-chave "coleto­ria", que torna os v 15-17 necessários. Sobre a escolha de um homem tão impossível tinha de ser dito mais alguma coisa. Esta é introduzida com "aconteceu que" (v 15, bj). Começa o assunto mais importante que estava em vista.
2.  Temática. Nosso trecho dá continuidade eclesiológica à narrativa cristológica ante­rior da autoridade de Jesus. Pela primeira vez aparece a expressão importante "Jesus e seus discípulos" (v 15; cf qi 8f), Quem Jesus chama para junto de si e quem não? No último versículo seu chamado do v 14 é tornado geral: só pecadores! Do seu perdão de pecados nasce a comunidade de pecadores agraciados. Por isso a comunhão da mesa de Jesus com os "publicanos e pecadores" - a expressão é escrita três vezes por extenso! ocupa toda a cena. Deste modo, o chamado de um cobrador de impostos não foi um caso isolado, mas um caso exemplar de alcance fundamental. "Só para pecadores" está escrito sobre a salvação de Jesus. Pela conclusão do v 15 os publicanos compõem a massa de seus seguidores, mesmo que tenha havido entre eles quem não o fosse. Mas a coisa é levada ao extremo de modo provocador, para forçar uma brecha, para destruir o conceito farisaico de comunidade - um perigo atemporal, que avança pelos séculos!, e para fixar e impor a natureza da comunidade de Deus de modo inesquecível.
3. Publicanos. Uma fonte importante de recursos do pequeno reino da Galileia eram os postos de alfândega, que cobravam impostos não só nas fronteiras, mas também na entrada e saída de povoados, na encruzilhadas e nas pontes. Para isto era usado o sistema de locação, muito generalizado na Antiguidade: um nativo arrematava um ou mais postos de cobrança leiloados, e se comprometia com o pagamento regular de uma quantia fixa. Para garantir a aquisição deste valor dentro do prazo, além de um lucro pessoal e um bom pagamento aos empregados nesta atividade altamente impopular, cobrava-se dos transeun­tes sempre mais que o normalmente estipulado. Estes, então, com razão se sentiam logra­dos.
Os viajantes tinham de entregar todos os objetos que levavam consigo. Se o cobrador suspeitava que algo lhe fora oculto, ele tinha o direito de revistar as cargas e as pessoas. Nem cartas e outros objetos de cunho pessoal estavam a salvo. Produtos não declarados podiam ser confiscados e possivelmente ficavam para o cobrador. Um terceiro que dava indicações sobre objetos escondidos podia obter uma recompensa. Não é preciso ter muita fantasia para imaginar o estado de ânimo em uma coletoria: desconfiança, ódio, brigas, mentiras dos dois lados.
Em torno do grupo de coletores ergueu-se um muro geral de ódio e desprezo. Todos preferiam ver um coletor pelas costas. Nenhuma pessoa decente empregava-se com eles. O escritor pagão Júlio Pollux relacionou 35 termos injuriosos contra locatários de alfândega. Os cobradores eram considerados ladrões e assaltantes por definição. Era permitido enga­ná-los e perjurar perante eles. Doações de caridade da parte deles eram recusadas. Eles não podiam comparecer no tribunal como testemunhas, cargos importantes lhes eram vedados. Suas famílias, que participavam da riqueza roubada, também eram marginalizadas. Um fariseu que se tornasse coletor era expulso, e sua esposa podia divorciar-se dele.
O motivo do desprezo dos cobradores, pelo menos na Galiléia, não era a colaboração com as forças de ocupação, já que os romanos tinham concedido a Herodes Antipas a mesma isenção de impostos e autonomia financeira como a seu pai; sua base era unica­mente moral, pois a motivação deste negócio sujo era a ganância desenfreada, o pré-requi­sito era uma insensibilidade repugnante que não se impressionava nem com problemas de consciência nem com os preceitos de Deus. Disto resultava o oposto exato do fariseu, o judeu rigoroso na Torá (cf Lc 18.9-14). Levamos tudo isto em consideração quando lemos que Jesus arriscou-se a receber a alcunha de "amigo dos publicanos" e que a lista dos apóstolos inclui "Mateus, o publicano" (Mt 10.3). Ainda 150 anos depois o filósofo roma­no Celso derramou sua zombaria sobre os cristãos e seu Jesus: bandidos, cobradores de impostos e pescadores eram seus discípulos.
4. Os fariseus. Quando, no século III a.C., o helenismo experimentava um avanço triunfal em volta de todo o Mediterrâneo, a atração pela arte e literatura, língua, costumes e espirituosidade, por teatro e esporte dos gregos afetou também o povo judeu. Cada vez menos a massa popular, assim como a classe dominante, acreditava que ainda fosse possível viver de acordo com as antigas leis de Moisés na época moderna. Por volta do ano 200 a.C. porém, um grupo de cerne duro do povo judeu começou a resistir. Conscientes de oferece­rem a única alternativa para a civilização predominante, a única com futuro, eles se firmaram ainda mais sobre a Torá e a herança dos antepassados. O resultado foi algo espantoso no helenismo, em que eles realmente conseguiram preservar em grande parte a singularidade do judaísmo.


Para isto eles se uniram em comunidades bem organizadas, como um par­tido político. Havia condições para admissão, tempo de carência, juramento, tratamento de irmão, reuniões regulares, medidas disciplinares e de exclusão. Seus mantenedores provinham de todas as camadas da população, mas princi­palmente da classe dos comerciantes e artesãos. Na época de Herodes o Gran­de o movimento abrangia não mais que uns 10.000 membros em uma popula­ção total de meio milhão, mas se tornava cada vez mais a força que liderava o povo, devido ao seu ímpeto extraordinário. Determinantes nele eram os teólo­gos formados e os escribas (opr 5 a 1.21-28).
Seus principais objetivos eram a separação completa de tudo o que não fosse judeu, e a observância rigorosa da tradição mosaica. Por isso eles se chamavam de "separados" ("fariseu", do hebr perushim e do aram perisha-jja). Usando uma expressão moderna, poderíamos falar de uma religiosidade de Apartheid. Para prevenir qualquer transgressão da Torá, os professores fa­riseus a comparavam com um canteiro de flores muito bonito, que em nenhu­ma hipótese pode ser pisado e, por isso, recebe uma cerca em volta, a certa distância. A "cerca" (Bill. I, 693) em volta da Torá era formada por centenas de prescrições adicionais dos professores da lei, tornadas obrigatórias para quem quer que quisesse ser judeu a sério. Ali teria de deter o passo quem se importava com a Torá. No sábado, p ex, não era proibido apenas o uso de ferramentas, mas já tomá-las na mão. O dia de descanso não começava ao pôr-do-sol, mas um pouco antes. Desta maneira surgiram uma porção de suti­lezas que marcavam a vida e o pensamento dos que eram fiéis à lei.
Um papel destacado tinham os mandamentos sobre comer e beber (Gn 43.32; Dn 1.8; 3Mac 3.4; cf Mc 7.1-23; At 11.3,8). A coisa ficava bem crítica quando era o caso de aceitar um convite para um banquete. Em primeiro lugar, a cozi­nha alheia era difícil de controlar. Era muito fácil ingerir alimento impuro ou pelo qual não fora dado o dízimo, ou comer de tigelas não consagradas! Acima de tudo, porém, temos de considerar o efeito da solidariedade da comunhão à mesa, que é tão importante no Oriente. Corria-se o perigo de encontrar pessoas que não levavam a pureza ritual tão a sério. Era imperativo jamais tocá-las. Portanto, era necessário informar-se sobre os outros convidados, especialmente sobre os possíveis vizinhos à mesa. A melhor coisa que um homem religioso podia fazer era ficar longe deste tipo de promoção. Estas festas não combina­vam com alguém que queria combinar com Deus. Se a participação era inevitá­vel, havia regras de conduta minuciosas à mão (Bill. II, 510s).
13   De novo, saiu Jesus para junto do mar (cf 1.16n), e toda a multidão vinha ao seu encontro, e ele os ensinava. Nesta fase da vida de Jesus as sinagogas já não lhe abriam mais as portas, mas o povo ainda o seguia. Assim, ele se encontrava com as pessoas a céu aberto, sob o signo da hostilidade que se formava, não para retiros idílicos à beira-mar. As cidades não eram constru­ídas diretamente na praia, com receio de eventuais tempestades com inunda­ções. Pela mesma precaução, a faixa de terra livre também não era plantada. Com isso havia espaço para aglomerações populares. Além disso o orador podia subtrair-se rapidamente à ameaça de intervenção da polícia, evadindo-se pela água para regiões de outros países. Este é o contexto de várias históri­as que transcorrem no lago da Galileia, nos evangelhos (p ex 1.16; 4.1s,35; 5.1,21; 6.45; 8.13). Ao colocar esta informação sobre a prática de ensino de Jesus à frente da vocação de discípulos do v 14 - como em 1.14-20! – Marcos está inserindo o discipulado basicamente na mensagem do Jesus. As pessoas não vem a Jesus para satisfazer quaisquer anseios, mas em resposta ao que ele traz, ecoando sob e com a boa notícia de Deus. Os seguidores de Jesus sabem quem os chama e para quê ele os chama, e eles também se tornam membros de uma comunidade concreta, como aqui no v 15 e os primeiros quatro discí­pulos em 1.29-31.
14   Em um momento qualquer, indo para a beira do lago ou voltando, aconteceu o encontro com Levi. Quando ia passando, viu a Levi, filho de Alfeu, sentado na coletoria. Ele não era "chefe dos cobradores de impostos", como Zaqueu em Lc 19.2, com empregados trabalhando para ele. Ele atendia o pú­blico, sentado atrás de uma mesa, exigia pagamentos e passava recibos. Pode­mos dar um outro sentido a este "sentado": ele estava estabelecido e arraigado neste negócio, cobrador por dentro e por fora, que sabia que cada passante queria mandá-lo para o inferno. Mas agora passou este que era bem diferente, trazendo consigo o reinado de Deus. Este o "vê" e disse-lhe: Segue-me! Ele se levantou e o seguiu. A estrutura básica de todos os chamados inclui a menção de Jesus passando em frente e vendo, identificação por nome, origem e profissão, por fim também o rompimento, o dispor-se e a execução da or­dem (cf 1.16-20). Olhando para 10.17ss, porém, nos precaveremos contra o mal-entendido de que o chamado de Jesus é um poder mecânico que vem sobre nós. O jovem rico ficou "contrariado" e não o seguiu, mas "retirou-se". E Levi não deu um salto sem mais nem menos, como um marionete, mas ouviu e obedeceu com toda a sua vontade.
15   No tempo presente, que aumenta a atenção, Marcos chega no ponto central da sua narrativa: Achando-se Jesus à mesa na casa de Levi, estavam juntamente com ele e com seus discípulos muitos publicanos e pecadores; porque estes eram um grande número e também o seguiam. Assim como Levi levou o Senhor para a sua casa, Pedro tinha feito em 1.29, Zaqueu fez em Lc 19.5 e também Lídia, quando disse em At 16.15 aos mensageiros de Jesus: "Se julgais que eu sou fiel ao Senhor, entrai em minha casa e aí ficai" (cf At 9.42,43; 10.48).
Em primeiro lugar trata-se de festejar a salvação, como no caso do filho perdido e reencontrado, em Lc 15.23. A salvação quer expandir-se além do cérebro e do coração e invadir também a esfera corporal: "Provai e vede que o Senhor é bom" (Sl 34.8) - não fiquem só falando! Em segundo lugar, no entanto, já temos a estratégia missionária: "Crê no Senhor Jesus, e serás sal­vo, tu e tua casal" (At 16.31). O objetivo é a casa do salvo. A salvação deve ser trazida para seu espaço vital atual, ser plantado ali como sinal do reinado de Deus. O novo discípulo professa pertencer a Jesus e Jesus professa perten­cer a ele.
Haenchen sente falta que Jesus aqui não se importa pelas pessoas, como diz sua tarefa no v 17: "Uma festa assim não é pastoral" (p 110). A frase está certa, desde que se omita uma palavra: uma festa assim é pastoral! Ao sentar-se com estes pecadores notórios, ele lhes oferece, com força simbólica, comu­nhão de vida, paz e confiança.
Podemos meditar por que logo aqui se fala dos discípulos de Jesus. Pelo menos quatro deles eram pescadores e, como tais, não deveriam ter em con­ceito muito elevado os colegas da coletoria. Já no caminho da praia para a cidade, estes devem ter-lhes tirado muitas vezes uma parte do fruto do seu penoso trabalho noturno. Schlatter suspeita além disso que em Cafarnaum também se recolhessem taxas para a liberação dos direitos de pesca. Não de­vemos nos deixar levar, portanto, por nossa compaixão romântica pelos publi­canos. Os pescadores estavam encontrando aqui os seus exploradores! Toda­via, o perdão de Deus se expande também horizontalmente. Pessoa e pessoa têm um novo encontro (cf Lc 19.8!).
Assim Jesus reuniu todos em volta da mesma mesa, se bem que não à mesa da sinagoga. Estas pessoas não foram encaminhadas ao judaísmo rabí­nico; as estruturas do reinado de Deus romperam as estruturas do mundo ve­lho. Coisas maravilhosamente novas e grandes se anunciam. 16     Os escribas dos fariseus, vendo-o comer em companhia dos pecadores e publicanos. De acordo com Bill. IV, 615, casas em que se realizava um banquete eram consideradas casas abertas, em que pessoas não convidadas também tentavam entrar para arrebatar alguma guloseima. Conta-se de ban­quetes judaicos com 85 hóspedes, numerosos atendentes e até 80 pratos. Com este alvoroço os curiosos não tinham dificuldades para entrar, mesmo que não participassem do banquete em si. Aqui são os escribas dos fariseus que fa­zem as suas observações. Havia, mesmo que em número menor, escribas que faziam parte do partido dos saduceus, um movimento que naquela época já perdia sua força e que desapareceu com a destruição do templo (cf opr 1 a 12.18-27). Marcos só os menciona em 12.18, contra doze referências aos fari­seus. Estes perguntavam aos discípulos dele - até parece um grito de horror: Por que como [e bebe] ele com os publicanos e pecadores?
A indignação pressupõe que na verdade eles consideravam Jesus como sendo um deles. Não podia ser ele encontrado regularmente nas sinagogas? Não era ele um homem da Escritura e de oração? Não levava ele uma vida consagrada a Deus? E agora eles o veem lá com os outros. Na verdade Mt 11.19 dá a entender que Jesus atendia com frequência convites como este, portanto, seguia objetivamente uma linha pré-estabelecida. Talvez foi por isso que os professores da lei se voltaram para os discípulos dele, porque entendi­am que somente estes ainda podiam ser influenciados, e queriam inserir uma cunha entre discípulos e mestre. Eles são convocados a fazer um julgamento e confessar lealdade.
Em todo caso, estes homens acostumados ao respeito vêem que Jesus é um homem que se atrevia a desprezar esta tese básica, passando por cima da sepa­ração entre eles e os cobradores de impostos. Parecia que ele renunciava às bem-aventuranças do Sl 1.1: ele estava assentado na roda dos escarnecedores! Naturalmente os cobradores de impostos não escarneciam na presença dele, antes começavam a segui-lo, como o v 15 registra claramente. Mas será que isto não estava acontecendo muito facilmente? O fariseu também sabia da sua Bíblia que em Deus há muito perdão. Mas depois sua lógica farisaica se mani­festava: perdão sim, mas só depois de mostrar que o arrependimento é sincero, consertando os erros e mudando toda a direção da vida. Perdão só no fim de uma caminhada longa de cumprimento duro da lei. Só então, só depois disto Deus se voltava ao seu pecador. Até lá era preciso manter-se separado do peca­dor - por amor ao pecador. Assim lhe mostravam que de Deus não se zomba.
17   Tendo Jesus ouvido isto, respondeu-lhes: Os sãos não precisam de médico, e sim os doentes. De forma alguma Jesus, com sua comunhão à mesa com os cobradores de impostos, estava sancionando os abusos das coletorias, de forma alguma ele bagatelizou o desprezo da Torá. Seus críticos de­veriam reconhecer que a interpretação que faziam da atitude dele não é mandatária. Também existe solidariedade com base em disposição de ajudar. Em certa área isto é inconteste. Neste contexto Jesus utiliza a figura do médico, que naquele tempo era bem conhecida, sob várias formas. Só quem não co­nhece a missão do médico surpreende-se com quem ele se encontra. O médico rompe com o conceito tão antigo e desumano do "diz-me com quem andas e dir-te-ei quem és" e aparece como são entre doentes, obviamente não para tornar-se como eles, mas para transformá-los. Ao mesmo tempo esta resposta contém uma crítica à crítica. Em Mateus ela está mais detalhada. Jesus acusa os fariseus de falta de misericórdia (9.13): Vocês, tão abençoados pelo estudo da Escritura a vida inteira, deveriam ser médicos! Indiretamente Jesus está dizendo que ele é médico, apoiado também no fundo do at desta figura. Médi­co é uma antiga profissão-símbolo para o salvador messiânico, semelhante a um pastor (cf Ez 34.16; Êx 15.26; Jr 8.22; Lc 4.23). Jesus é o portador da disposição divina de ajudar. Por isso ele se ajusta tão bem a estes desajusta­dos. Por isso ele também, mais tarde, morre debaixo da maldição entre dois malfeitores. A comunhão na refeição com os malditos (Jo 7.49) já o anuncia. Sem usar a figura, Jesus acrescenta: não vim para chamar justos, e sim pecadores. Esta continuação confirma que Jesus acabara de falar da sua mis­são fundamental, da sua vinda. Vir está vinculado a ser enviado. Jesus é o mensageiro de Deus.
Mas será que ele, de acordo com esta palavra, traz sua mensagem só para uma parte da humanidade? O melhor é ficarmos no contexto da palavra bíbli­ca anterior: o médico entra em uma casa e procura seu paciente. O fato de, nisto, ele passar ao largo das casas dos sãos não o torna contrário aos sãos por princípio. Assim, da negação de Jesus, "não vim para chamar justos", devemos tirar só o aspecto positivo, que ele está fazendo seu trabalho como um médico bom e consciencioso. De forma alguma seu amor pelos pecadores implica em falta de amor com os justos. Exatamente em nossa história ele discute com eles com muito respeito. Em 10.21 está dito expressamente que ele ama os que são fiéis à lei, e em 12.34 ele afirma a um professor da lei que ele está próximo do reino de Deus. Há uma preferência na sequência, mas não a exclusão de um lado. A lógica é exatamente esta: se Jesus encarna a vontade divina de ajudar até para estas pessoas totalmente condenáveis, então ele tem ajuda para todos. Seu apelo aos que estão longe contém um apelo indireto mas insistente aos que estão perto, de modo que todos são chamados. Esta verdade o Senhor atestou, de acordo com Mt 21.32: "Publicanos e meretrizes creram [...] para acreditardes nele". A preferência por uns deveria ser um estímulo para os outros. Neste sentido Paulo também esperava que as conver­sões dos gentios "despertariam ciúmes" e "incitariam à emulação" o antigo Israel (Rm 10.19; 11.11,14).
Voltamos à opr 2 (temática). Existe um sentido atemporal permanente para as muitas histórias com fariseus nos evangelhos porque existe um farisaísmo intrínseco à igreja.
Assim Paulo, p ex, em suas cartas às igrejas tinha de lutar muito para que a igreja de Jesus continuasse sendo o lar dos fracos (Rm 14.1,10,13,15; 15.1,7; 1Co 8.9-13). Ela praticamente precisa dos fracos para poder apresentar-se como igreja de Jesus.
Não foi por acaso que Paulo jogou todas as fichas em uma mesma carta em Gl 2, quando da questão de os crentes comerem todos juntos. A comunhão à mesa sempre celebra a reconciliação. Senão o evangelho seria traído e a cruz esvaziada. Segundo 1Tm 1.15, todos devem reconhecer que Jesus Cristo veio "para salvar os pecadores".
Pedro Prega à Multidão (Atos 2.14-41)
Conquanto não seja o primeiro sermão de Atos (cp. 1:16-22), este é o primeiro a proclamar o evento de Cristo, isto é, é o primeiro exemplo de kerygma. Menciona o ministério e a morte de Jesus, mas sua preocupação maior é demonstrar que Jesus é o Messias, e para atingir esse objetivo, coloca grande ênfase na ressurreição e ascensão do Senhor.
Como veremos, este sermão estabelece o padrão de grande parte da pregação registrada em Atos. Analisando uma pesquisa de todos os exemplos de kerygma em Atos, C. H. Dodd identificou seis elementos básicos: a era do cumprimento chegou; o cumprimento se fez na Pessoa e na obra de Jesus, especialmente em sua morte e ressurreição, esta sendo a prova de que ele é o Cristo; Cristo foi exaltado; o Espírito Santo na igreja é o sinal do poder atual de Cristo; Cristo vai voltar; os ouvintes precisam arrepender-se e crer. Nem todos estes elementos estão presentes cada vez que Cristo é proclamado, mas aparecem com frequência suficiente para constituir um padrão definido. Entretanto, o fato de esse padrão poder ser observado além de Atos, p.e., em Marcos l:14s. e em várias cartas paulinas (cp. p.e. Romanos 10:8s.; 14:9s.; 1 Coríntios 15:1 ss.), atrai o ferrão da crítica segundo a qual estes sermões, por causa de sua similaridade generalizada, são o produto da própria invencionice de Lucas (veja Dodd, Preaching [Pregação], pp. 7ss.). E quando observamos com maior profundidade que "a maior parte das formas de kerygma em Atos demonstra em sua linguagem um forte colorido aramaico, podemos reconhecer a existência da grande probabilidade de nessas passagens estarmos em contato direto com as tradições primitivas da história de Jesus" (Dodd, History [História], p. 73).
Não há dúvida, entretanto, que Lucas deixou suas próprias marcas nesses sermões. Era de se esperar isso mesmo, quando consideramos o fato de esses registros serem apenas indícios do que foi dito, e não relatórios completos, palavra por palavra (cp. v. 40). No entanto, temos todas as razões para confiar que Lucas nada mais fez do que exercer as funções de um editor, não as de um inventor, pois reteve fielmente o resumo do sermão e às vezes as palavras originais dos pregadores. No que concerne a este sermão em particular, devemos observar o seguinte: primeiro, enquadra-se muito bem na ocasião em que pretende inserir-se; segundo, em sua exposição das Escrituras sobrevive uma argumentação bastante primitiva sobre o messianismo de Jesus, em que se demonstra o estilo hermenêutico dos rabis (veja B. Lindars, pp. 38-45, esp. p. 45; e E. E. Ellis, pp. 198-208); e terceiro, em geral "reflete um estágio primitivo do desenvolvimento da teologia cristã, em vez de o pensamento do Novo Testamento, como um todo" (Neil, p. 74). Com base nessas evidências, podemos não só considerar esse sermão como típico da pregação da igreja, em seus primeiros anos, mas também dar todo o crédito a Lucas pelo trabalho confiável de registrar tudo que foi realmente dito nessa ocasião.
2:37-38 / Ao ouvir isto, as pessoas compungiram-se em seu coração
(v. 37). Alguns deles talvez estivessem implicados na morte de Jesus, pelo menos ao dar aprovação tácita à ação executada por outros; agora, sentem o aguilhão das palavras de Pedro: "a esse Jesus, a quem vós crucificastes"(v. 36). Haviam crucificado o Senhor! Eles rogam, portanto:
Que faremos, irmãos? e são instruídos: Arrependei-vos, e cada um de vós... — literalmente, "Mudai a vossa mente". Mas na linguagem bíblica isto implica na mudança total do modo de vida da pessoa (veja a disc. Sobre 3:19; cp. 8:22; 17:30; 20:21; 26:20) —e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo (v. 38). O batismo era o sinal de arrependimento e (da parte de Deus) de perdão de pecados (cp. 5:31; 10:43; 13:3 8s.; 26:18; veja a disc. sobre 3:19), e do dom do Espírito (veja as notas sobre 2:2ss. e a disc. sobre 18:25 e 19:4, quanto ao batismo de João, que apenas antecipou estes fatos). As distinções de número nos verbos gregos são significativas neste caso. O chamado ao arrependimento e ao batismo — a reação da pessoa à graça de Deus — está no singular, mas a promessa: Recebereis o dom do Espírito Santo (v. 38), está no plural, visto que o Espírito é dado à comunidade de que o indivíduo torna-se parte (veja as notas sobre o v. 4).
O rito do batismo era administrado em nome de Jesus Cristo (v. 38), em que a preposição em é a tradução da preposição grega epi, com o significado de "sobre", e em nome, significa "na pessoa". Isto significa: Jesus Cristo, e a fé nele, são a base sobre a qual este batismo era oferecido, estando ligado à promessa. Isto se enquadra com a evidência de que por ocasião do batismo era costume o convertido fazer uma confissão de Jesus como Senhor (veja as disc. sobre 11:17; 16:31; cp. 8:37; Romanos 10:9; 1 Coríntios 12:3; Filemon 2:11).
2:39 Que maravilha de graça se evidencia aqui, na promessa feita no versículo anterior, para as mesmas pessoas que havia pouco tempo estiveram invocando o sangue de Jesus sobre elas mesmas e sobre seus filhos (Mateus 27:25). Todavia, essa promessa também foi feita para os que estão longe. É improvável, todavia, que o apóstolo intencionasse incluir os gentios nessa declaração. É mais provável que se trate de uma referência aos judeus da Diáspora. Se Pedro tivesse a intenção de incluir os gentios, poderíamos esperar que houvesse uma menção específica dos gentios, como em 22:21. É verdade que há uma frase análoga em Efésios 2:13, 17 (cp. Isaías 57:19; também Isaías 2:2; 5:26; Zacarias 6:15), onde a referência é aos gentios; todavia, não devemos esperar encontrar no primeiro sermão público de Pedro a visão mais ampla que Paulo teria mais tarde. Para o apóstolo Pedro tratava-se ainda de uma questão de Deus nosso Senhor num sentido estreito, o do nacionalismo judaico, e até mesmo a referência em 3:26 a Jesus sendo enviado "em primeiro lugar" aos judeus não implica necessariamente que "a seguir ele seria enviado aos gentios também", no sentido paulino; implicaria apenas que a esperança tão duramente aguardada, a do novo tempo, em que os gentios se reuniriam no monte Sião a fim de participar do culto a Deus (veja, p.e., Salmo 22:27; Isaías 2:2s.; 56:6-8; Sofonias 3:9s.; Zacarias 14:16; Salmos de Salomão 17:33-35; Oráculos Sibilinos 3.702-28, 772-76). Que Pedro ainda não havia entendido o escopo total das boas novas fica evidente pela leitura do capítulo 10 (veja especialmente a disc. sobre 10:9ss.; cp. 5:31). A última linha do versículo 39 é uma alusão a Joel 2:32, que vem complementar a citação anterior, pois ninguém pode invocar o nome do Senhor (como no v. 21) antes de o Senhor chamá-lo primeiro. A iniciativa da salvação parte sempre de Deus. Até mesmo o arrependimento e a fé são dádivas divinas (5:31; 11:18).
2:40 / Pedro disse muitas outras coisas, de que Lucas nos dá apenas um esboço genérico: Salvai-vos desta geração perversa. Essa geração perversa eram os judeus, em consequência de haverem rejeitado a Jesus. O sentido do verbo na frase: dava testemunho é que Pedro testificava da verdade, enquanto protestava contra as falsas opiniões que barravam o caminho da aceitação dessa verdade (cp. 8:25; 10:42; 18:5; 20:21, 24; 23:11; 28:23). O segundo verbo, e os exortava, está num tempo (imperfeito) que implica que Pedro fez reiterados apelos.
2:41 / O resultado foi que muitos que de bom grado receberam a sua palavra foram batizados. Quando e onde esses batismos ocorreram, Lucas não nos diz. Pode ter havido um lapso de tempo, durante o qual o povo recebeu mais instrução. Contudo, efetivamente, três mil pessoas foram acrescentadas à igreja naquele dia. A verdade integral em que se baseia esta declaração, a saber, que foi o Senhor quem acrescentou esse povo todo, expressa-se no v. 47 (cp. v. 39; 5:14; 11:24). O número é apenas aproximado (quase; veja a disc. Sobre 1:15); não precisamos ter dúvidas quanto a esse número. Muitas dessas pessoas já teriam alguma familiaridade com Jesus, e talvez precisassem apenas de ver e ouvir aquelas coisas para se persuadirem de que Jesus era o Cristo (cp. João 4:35-38). Entre os convertidos deveria haver, sem dúvida, alguns judeus da Diáspora, alguns dos quais subsequentemente formaram o núcleo das igrejas em sua própria terra.
Outros talvez permanecessem em Jerusalém a fim de engrossar as fileiras dos cristãos e tirar proveito dos recursos da igreja nascente (veja a disc. Sobre 44s.).

Notas Adicionais

2:38 / Seja batizado em nome de Jesus Cristo: O nome de Jesus significa sua pessoa, seu poder e, em certo sentido, sua presença. Quando os crentes falavam no nome de Jesus, acreditavam que ele se tornava pessoalmente envolvido no que estava acontecendo, e passava a operar através deles como seus agentes. Assim é que em seu nome os doentes eram curados (3:6, 16; 4:7, 10), milagres eram realizados (4:30), demônios eram exorcizados (19:13) e pecados perdoados (10:43). A salvação dependia do nome de Jesus (4:12); os discípulos ensinavam e pregavam em seu nome (4:17s.; 5:28, 40; 8:12; 9:15, 27, 29). As pessoas invocavam seu nome (2:21; 9:14; 22:16), davam louvor ao seu nome (19:17), sofriam pelo seu nome (5:41; 9:16; 15:26; 21:13), e eram batizadas em seu nome (2:38: 8:16; 10:48; 19:5).
O fato de o batismo ser administrado em nome de Jesus não invoca necessariamente a discussão da fórmula trinitária de Mateus 28:19. O uso do nome de Cristo aqui significa apenas que como a igreja foi chamada para pertencer a Cristo, ao mencionar o rito pelo qual os crentes obtêm acesso à igreja, o nome do Senhor torna-se especialmente preeminente. É a fé em Cristo como o Messias que constitui a base da admissão dos crentes à igreja (cp. Mateus 16:16).
E recebereis o dom do Espírito Santo: Podem estar implícitas as exigências e as promessas deste versículo, ainda que não expressas, em toda pregação de Atos. Este é, p.e., o único sermão que termina com a oferta do dom de Deus, o Espírito Santo, mas não se pode acalentar dúvidas quanto a esse dom estar disponível a todos que, em alguma época, arrependeram-se de seus pecados e creram no Senhor.

CONCLUSÃO
Provamos que somos de servos de Cristo quando colocamos em pratica o que Maria mãe de Jesus falou: “Sua mãe disse aos serventes: Fazei tudo quanto ele vos disser”. (João 2.5). Como saberemos o que Jesus diz para nós? Ele mesmo responde, ao falar: “Examinais as Escrituras, porque vós cuidais ter nelas a vida eterna, e são elas que de mim testificam;”. (João 5.39).
O que você está esperando? É tempo te cumprimos o mandado do mestre dos Mestres e Senhor dos senhores.

Deus vos abençoe 1000 vezes mais.
Boa Aula.

REFERÊNCIAS

POHL, Adolf. O Evangelho de Marcos Comentário Esperança. 1ª ed: Editora Evangélica Esperança: 1998.

WILLIAMS, J. David. Novo Comentário Bíblico Contemporâneo ATOS.

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