terça-feira, 8 de dezembro de 2015

Lição 11 – Melquisedeque Abençoa Abraão

SUBSÍDIO PARA A ESCOLA BÍBLICA DOMINICAL.

4º Trimestre/2015

LEITURA BÍBLICA EM CLASSE: Gênesis 14.12-20
TEXTO ÁUREO: “E abençoou-o e disse: Bendito seja Abrão do Deus Altíssimo, o Possuidor dos céus e da terra” (Gn 14.19).

INTRODUÇÃO

Quando Abraão retorna da renhida batalha para libertar Ló, entra em cena Melquisedeque. Pouco se sabe a respeito desse Ser, que abençoou Abrão e o acolheu com alimentos. Embora pareça que fosse cananeu, servia ao Deus verdadeiro, El Elyon (Deus Altíssimo). Seu nome significa "rei de justiça" e era rei de Salém (paz), isto é, que também era "rei de paz". Considerando que a Bíblia não menciona sua genealogia, seu sacerdócio era singular em sua ordem. Não dependia de sua genealogia, mas de sua nomeação direta por Deus (Salmo 110.4; Hb 7.1-3,11,15-18) e simboliza um sacerdócio perpétuo. Assim, Melquisedeque prefigurava o Rei-sacerdote eterno Jesus Cristo. O autor de Hebreus entende que o fato de Melquisedeque abençoar a Abraão indica que Melquisedeque é maior do que Abraão (Hb 7.7).

I. MELQUISEDEQUE, REI DE SALÉM

Melquisedeque é, no texto sagrado, alguém que não tinha genealogia, ou seja, não tinha estabelecido a sua etnia, a sua origem, sendo apresentado tão somente como rei de Salém. Isto não quer dizer que não fosse uma pessoa que tivesse uma origem, uma família. Não merecem guarida as interpretações que fazem de Melquisedeque um anjo, ou, mesmo, o próprio Jesus numa “aparição teofânica”, porquanto o sacerdote era, antes de tudo, um ser humano e a apresentação de Jesus como “sacerdote segundo a ordem de Melquisedeque” enfatiza esta humanidade.

1. Rei de Salém. (Gn 4.18). Salém é aparentemente um nome antigo para Jerusalém (Sl 76.2). Enquanto rei, Melquisedeque é apresentado como rei de Salém, ou seja, rei de paz, pois este é o significado do nome da cidade por ele governada. 
Jesus, enquanto rei, também é assim apresentado: Ele é profetizado como o Príncipe da Paz (Is 9.6); ao nascer é apresentado como Aquele que traz paz aos homens (Lc 2.14); antes de ser separado dos Seus discípulos para sofrer e morrer por nós, deixa a eles a paz (João 14.27); quando se reencontra com os seus discípulos, concede-lhes esta mesma paz (João 20.19). Como disse o apóstolo Paulo, Ele é a nossa paz (Ef 2.14), sendo o Seu evangelho o evangelho da paz (Ef 2.17; 6.15).

2. Sacerdote do Deus Altíssimo. (Gn 14.18). Melquisedeque (que significa “rei de justiça”) era tanto “rei de Salém” (possivelmente a Jerusalém primitiva), como “sacerdote do Deus Altíssimo”. Ele servia ao único Deus verdadeiro, assim como Abrão. Melquisedeque é um tipo ou figura da realeza e sacerdócio eternos de Jesus Cristo (Sl 110.4; Hb 7.1,3). Melquisedeque é a primeira pessoa que foi chamada de “sacerdote” nas Escrituras Sagradas, sendo um gentio, denominado de “sacerdote do Deus Altíssimo”, que abençoou Abrão e dele recebeu o dízimo de tudo, ou seja, dos despojos da guerra (Gn 14.18-20). 
A Bíblia não nos diz como e porque Melquisedeque, que também era rei de Salém, era sacerdote do Deus Altíssimo, Deus este que era o mesmo Deus de Abrão, pois assim foi identificado pelo próprio sacerdote, quando o abençoou. Melquisedeque, portanto, era um sacerdote que servia a Deus, entre as nações, apesar da idolatria reinante, da rejeição a Deus por parte dos gentios. 
Como entender que o "Deus Altíssimo" de Melquisedeque era o mesmo Deus de Abrão? Isto nos mostra, com grande clareza, que o discernimento que havia aqui era um discernimento espiritual. O Espírito de Deus testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus (Rm 8:16) e há uma comunhão entre os servos de Deus, de forma que surge uma sintonia tal que culturas, cerimônias, rituais e nomes não são capazes de desfazer. 

3. Figura de Jesus. (Gn 4.18) - “rei de Salém... sacerdote do Deus Altíssimo”. A apresentação de Melquisedeque não só enfatiza que ele era um rei, mas também um sacerdote. Desta forma, ele é um tipo de Cristo, que é nosso Profeta, Sacerdote e Rei. 
a) enquanto rei, Melquisedeque é apresentado como rei de justiça, pois este é o significado de seu nome (Hb 7.2). Jesus, enquanto rei, também é assim apresentado: Ele é profetizado como o Justo (Is 53.11); ao ser apresentado no templo é mostrado como Aquele que é colocado para queda e elevação de muitos em Israel, ou seja, como o aferidor, o julgador (Lc 2.34); ao ser levado perante as autoridades, nele não é encontrada culpa alguma pelo presidente que ali representava a autoridade de César (João 18.38, At 3.14); enquanto era crucificado, foi reconhecido como inocente por um dos malfeitores (Lc 23.41); bem como quando expirou foi reconhecido como justo (Lc 23.47) e, porque era justo, não pôde ser mantido na sepultura (At 2.24-27) e permanece justo para sempre (1 João 3.7). 
b) como sacerdote, Melquisedeque trouxe pão e vinho para o ritual da bênção. Jesus,como sacerdote, ofereceu-se a Si mesmo como oferta para satisfação da justiça de Deus - corpo e sangue que são representados, em comemoração, exatamente pelo pão e pelo vinho na igreja até o dia da Sua vinda (1 Co 11.26). 
c) como sacerdote, Melquisedeque intercedeu por Abrão perante Deus, abençoando-o e reconhecendo sua fidelidade ao Senhor. Jesus, como Sacerdote, intercede pelos transgressores (Is 53.12, 1 João 2.1,2), obtém para nós a bênção e aguarda o momento em que nos levará para que com Ele estejamos para sempre (João 14.3).

II. ABRAÃO, O GENTIO

1. O pai da nação hebraica. Abraão nasceu em Ur dos Caldeus. Sobre Ur lemos num dicionário bíblico: “Cidade muito antiga no sul da Babilônia, que se indentifica como Tell el-Muqayyar; ela estava situada na margem direita do rio Eufrates, a meio caminho entre Bagdá e o Golfo Pérsico. Tera e seus filhos – entre eles Abrão – nasceram em Ur e de lá se mudaram para Harã”. Portanto, a pátria de Abraão ficava na Babilônia. Josué também salienta isso no seu “discurso à nação”: “…Assim diz o Senhor, Deus de Israel: Antigamente, vossos pais, Tera, pai de Abraão e de Naor, habitaram dalém do Eufrates e serviram a outros deuses” (Js 24.2). Abraão de fato descendia de Sem, portanto era um semita, mas ele servia a quaisquer outros deuses babilônicos. Ter origem semítica ainda não significava ser o patriarca de Israel, mas simplesmente que Canaã lhe seria submisso, seria seu servo (Gn 9.26). A mudança só ocorreu em Gênesis 12. Ali houve um acontecimento que não apenas desestruturou o pequeno mundo de Abraão, mas que teve consequências que vão perdurar até o fim dos tempos. O Deus Soberano, o Criador dos céus e da terra, chamou um único homem, ordenou-lhe que deixasse sua terra e partisse para uma terra distante que Ele lhe mostraria. O Senhor não lhe disse o nome dessa terra. Por isso, Abraão não sabia em que se envolveria, mas creu na promessa que lhe foi dada a seguir: “de ti farei uma grande nação, e te abençoarei, e te engrandecerei o nome. Sê tu uma bênção!” (Gn 12.2). Embora somente seu neto Jacó tenha recebido o nome de Israel (Gn 32.28), isto não muda o fato de Abraão ser o patriarca do povo de Israel. Pois Abraão, Isaque e Jacó sempre são mencionados em conjunto, por exemplo, em Gênesis 50.24; Êxodo 33.1; Levítico 26.42; Números 32.11; Deuteronômio 1.8; Mateus 1.2; Lucas 13.28; Hebreus 11.8-9 e assim por diante. A base para isso é e continuará sendo a aliança de Deus com Abraão. O nome “judeus” muitas vezes é usado como sinônimo de Israel, mas deveríamos lembrar que isso não é historicamente exato, pois o reino de Davi se dividiu depois da morte de Salomão (930 a.C.). Formou-se, por um lado, o Reino do Norte (as dez tribos de Israel) e, por outro lado, o Reino do Sul (as duas tribos de Judá, os descendentes de Judá e Benjamim – veja 1 Reis 12). Depois do cativeiro babilônico, o nome “judeus” é usado de modo geral para os habitantes da Judéia. É interessante que no Novo Testamento Jesus é chamado de “Rei dos judeus” pelos estrangeiros (Mt 2.2; Mt 27.11, etc.), enquanto os próprios judeus o chamaram de “rei de Israel” (Mt 27.42). Atualmente não importa mais se um judeu ou uma judia descende de Judá, de Benjamim ou de qualquer uma das outras dez tribos. Usa-se a designação “judeus” genericamente para uma comunidade étnica que sobreviveu apesar de séculos de perseguição, porque Deus confirmou Sua aliança com Israel através de um juramento e conduzirá Seu povo para o alvo!

2. O pai dos crentes. Abraão ou Abrão (no hebraico é ‘abhraham, “pai de uma multidão”, ou “pai exaltado’: Abrão, no hebraico ‘abhram, “pai das alturas”) – a mudança de Abrão para Abraão teve por fim, reforçar a raiz da segunda sílaba, para dar maior ênfase à idéia de exaltação. Abraão era filho de Terá; progenitor dos hebreus, pai dos crentes e amigo de Deus, (Gn 11.26; Gl 3.7-9; Tg 2.23). Abraão nos é apresentado no Novo Testamento como um homem de fé, como nosso pai e exemplo. Em Romanos 4, onde ele é chamado de pai de todos os que creem (Rm 4.11,12,16) e Gálatas 3.1-14, onde os crentes são chamados de filhos de Abraão. Com Abraão Deus se apresenta como “El Shadday (Deus Todo Poderoso); “El Elyom (Deus Altissimo); “El Roy” (Deus Que Vê); e “El Olam” (Deus Eterno).  Assim devemos nós também aperfeiçoarmos a nossa “fé”, que é um dom de Deus, e permanecermos firmes diante de todas as circunstâncias em que nossa obediência é requerida por Deus, com ações de graças e não lamentações desta vida. Paulo vê nele “o tipo do crente que obtém a justiça independentemente das obras da Lei (Rm 4,25; Gl 3,6-29). A Fé em Cristo faz de cada crente um descendente de Abrão (Gl 3,29).

III. A OCASIÃO DA BÊNÇÃO

1. Objetivo da visita. Abrão deu o dízimo de tudo a Melquisedeque. O rei de Sodoma tinha menos inclinação religiosa. Pediu seu povo de volta, contudo foi bastante generoso em oferecer a Abrão todo saque procedente do combate. Abrão tinha pouco respeito por este homem e respondeu que fizera o voto de não ficar com nenhum bem que pertencesse ao rei de Sodoma, para que, depois, isso não fosse usado contra ele por aquele indivíduo repulsivo. Abrão também deixou claro que o seu Deus tinha o título de SENHOR e não era apenas outra deidade Cananéia. A única coisa que Abrão pediu foi que os soldados fossem recompensados pelos serviços prestados e que seus aliados, Aner, Escol e Manre, tivessem participação no saque. Agora note o que o escritor de Hebreus afirma: “Considerai, pois, quão grande era este, a quem até o patriarca Abraão deu os dízimos dos despojos” (Hb 7.4). Assim, Abraão dizimou sim dos despojos de guerra e o resto entregou ao rei de Sodoma, tirante a parte que cabia aos seus tirados. Para si, nada tirou Abraão, para que não se dissesse que tinha enriquecido à custa dos reis vencidos. Ele tinha direito inegável a uma parte, assim como Aner e os outros dois aliados, e ninguém o poderia censurar por isso, mas como não tinha ido à guerra por espírito ambicioso, nada quis para si. Não precisava, embora este não fosse o ponto envolvido, não quis que se dissesse que tinha enriquecido à custa da batalha O ponto importante aqui, não é a origem daquilo que foi dizimado –pessoal ou despojos – mas sim, que o dízimo de Abraão foi um tributo de gratidão pela sua vitória (Gn 18.20).

2. A autoridade de Melquisedeque. No livro de Gênesis Melquisedeque é um rei-sacerdote cananeu de Salém (Jerusalém) que abençoou Abraão quando este retornou depois de salvar Ló, e a quem Abraão pagou o dízimo do espólio da batalha. em Mateus 22.43, Jesus atribui o Salmo 110.4 (Jurou o Senhor, e não se arrependerá: tu és um sacerdote eterno, segundo a ordem de Melquisedeque) a Davi e a referência a si mesmo como o Messias. As passagens no livro de Hebreus trazem a mesma interpretação. O autor está discutindo a superioridade do sacerdócio de Cristo em comparação ao de Arão. Melquisedeque e seu sacerdócio são um exemplo de Cristo e de seu sacerdócio. O sacerdócio de Melquisedeque não estava limitado a uma raça ou tribo, sendo, portanto, universal. Sua realeza não foi herdada de seus pais. E essa realeza também não foi transmitida a um descendente; e assim ela era eterna. Portanto, Melquisedeque é uma tipologia de Cristo e de seu sacerdócio eterno e universal.

3. A simbologia da visita. A combinação ‘pão e vinho’ significa uma refeição completa, um banquete – uma oferta sacramental de pão e vinho, costume nos ritos orientais. O narrador não diz que Melquisedeque “viajou para encontrar-se com Abrão, levando pão e vinho”, mas simplesmente que ele “trouxe pão e vinho”; Com respeito ao ato de Melquisedeque abençoar Abraão e a aceitação implícita dessa benção por parte deste, o autor aos Hebreus comenta que Melquisedeque “abençoou o que tinha as promessas. Evidentemente, não há qualquer dúvida, que o inferior é abençoado pelo superior” (Hb 7.6,7).

IV. A LIÇÃO DE ABRAÃO

Diz o texto sagrado (Gn 14.1-4;11-14):

“E aconteceu, nos dias de Anrafel, rei de Sinar, Arioque, rei de Elasar, Quedorlaomer, rei de Elão, e Tidal, rei de Goim, que estes fizeram guerra a Bera, rei de Sodoma, a Birsa, rei de Gomorra, a Sinabe, rei de Admá, e a Semeber, rei de Zeboim, e ao rei de Bela (esta é Zoar). Todos estes se ajuntaram no vale de Sidim (que é o mar de Sal). Doze anos haviam servido a Quedorlaomer, mas, ao décimo-terceiro ano, rebelaram-se. E tomaram toda a fazenda de Sodoma e de Gomorra e todo o seu mantimento e foram-se. Também tomaram a Ló, que habitava em Sodoma, filho do irmão de Abrão, e a sua fazenda e foram-se. Então, veio um que escapara e o contou a Abrão, o hebreu; ele habitava junto dos carvalhais de Manre, o amorreu, irmão de Escol e irmão de Aner; eles eram confederados de Abrão. Ouvindo, pois, Abrão que o seu irmão estava preso, armou os seus criados, nascidos em sua casa, trezentos e dezoito, e os perseguiu até Dã.”
O líder desses reis invasores foi Quedorlaomer. Nada se sabe a respeito desse rei, exceto o que temos na Bíblia, mas aparentemente ele era muito poderoso. No tempo de Abrão, a maioria das cidades possuía seus próprios reis, e eram comuns as guerras e rivalidades entre estes. Uma cidade conquistada pagava imposto ao rei vitorioso. Cinco cidades, incluindo Sodoma, haviam pago impostos a Quedorlaomer durante 12 anos (Gn 14.4). Quando as cinco cidades fizeram uma aliança e se negaram a pagar os impostos (Gn 14.4), Quedorlaomer reagiu rapidamente e reconquistou todas elas. Ao derrotar Sodoma, foram capturados Ló, sua família e seus pertences. 
Abrão reagiu com fé a invasão dos reis invasores e Deus lhe deu vitória plena. Sua fé e ação, seu caráter, nesse episódio, traze-nos lições preciosas.

1. Fé Ativa e amor fraternal. Ao ser avisado do desastre militar que haviam sofrido as cidades do vale, Abraão armou seus 318 servos, conseguiu a ajuda de seus aliados amorreus e perseguiu os invasores. Abraão arrisca sua vida e fortuna para resgatar o seu sobrinho Ló, o qual foi sequestrado, perdeu suas posses e estava enfrentando escravidão. Abraão recuperou os cativos e o despojo, mediante um ataque de surpresa à noite. Não obstante, o elemento mais importante foi a intervenção de Deus: “bendito seja o Deus Altíssimo, que entregou os teus inimigos nas tuas mãos” (Gn 14.20). 
Nota-se que Abraão, o homem separado do mundo, não era indiferente aos sofrimentos dos que se encontravam ao seu derredor. Estava disposto a proteger seu indigno sobrinho e os de Sodoma. Isto demonstra que os que mantêm uma vida separada da pecaminosidade são os que atuam com mais prontidão e êxito em favor de outros no momento de crise.

2. Rejeitando um reino temporal. Após vencer os exércitos dos reis mesopotâmicos e conquistar os cativos e seu patrimônio, Abrão, pela lógica natural da lei de guerra, tornar-se-ia o novo senhor de Canaã (ou, pelo menos, da parte de Canaã ocupada pelos reis palestinos que haviam lutado contra os reis mesopotâmicos). Entretanto, tal não ocorreu, para surpresa de todos. Abrão não assumiu esta posição que as armas lhe haviam dado nem mesmo quis ter qualquer despojo pela vitória alcançada. Seu objetivo não era outro senão a cidade celestial (Hb 11.14-16). 
Dia após dia, também, encontramo-nos em situações de vitória e de glória, em que, após grande esforço, luta e dedicação, alcançamos os objetivos a que nos propusemos. Mas é neste momento que o adversário vem ao nosso encontro, oferecendo-nos a fugaz e passageira glória deste mundo (Mt.4.8,9), que promete nos entregar se tão somente com ele nos comprometermos. Será que temos tido o mesmo desprendimento e a mesma sinceridade de propósitos do patriarca, ou temos sucumbido como tantos outros na história da humanidade?

3. Resistindo à tentação do enriquecimento ilícito. Obtida a vitória, vem ao encontro de Abrão nada mais, nada menos que o rei de Sodoma, depois que Abrão voltava vitorioso, após ter liquidado seus inimigos. Abrão manteve a sua sobriedade e, quando o rei de Sodoma sai ao seu encontro, recebe-o, como deveria fazer qualquer pessoa civilizada. O rei de Sodoma ofereceu a Abrão todas as riquezas sodomitas, mas ele recusa a sua oferta. Segundo o costume daquele tempo, o libertador guardava para si o despojo quando resgatava do inimigo; mas Abraão não quis que ninguém, exceto Deus, pudesse dizer que o havia enriquecido. Demonstrou que ele não dependia de um rei humano, mas do Rei do Céu a quem havia "levantado a sua mão" -"Levantei minha mão ao Senhor, o Deus Altíssimo, o Possuidor dos céus e da terra, que desde um fio até a correia de um sapato, não tomarei coisa alguma do que é teu, para que não digas: eu enriqueci a Abrão" (Gn 14.22,23). 
Temos tornado esta expressão do patriarca uma realidade, ou já temos sido enriquecidos pelas benesses e vantagens aparentes do mundo de pecado? Será que não temos tido dores e problemas em nossas vidas por causa do "enriquecimento" proveniente do inimigo? Não nos esqueçamos que a Bíblia não nega que o adversário pode nos trazer riquezas. O que a Bíblia diz é que só as bênçãos do Senhor é que enriquecem e não acrescentam dores (Pv 10.22). Por isso, recusemos todo e qualquer enriquecimento que não provenha de Deus!

4. Discernindo entre o bem e o mal. (Gn 14.21). O rei de Sodoma ofereceu a Abrão que ficasse com todas as riquezas sodomitas, mas que lhe entregasse as almas, ou seja, os homens. Aqui verificamos, de pronto, que o interesse do rei de Sodoma era com as pessoas. Ele tratava seus súditos como verdadeira propriedade, como verdadeiros escravos. O rei de Sodoma é, assim, o verdadeiro tipo de nosso adversário, cujo objetivo é matar, roubar e destruir o homem. O diabo odeia o ser humano, quer, a todo custo, destruí-lo e, para tanto, oferece ao homem as fugazes e passageiras riquezas materiais em troca da alma humana. 
Abrão, com seu discernimento espiritual, logo percebeu a falácia e o engano na expressão do rei de Sodoma. Se entregasse os homens de Sodoma ao seu rei, que havia, inclusive, fugido da batalha, sem os seus bens, como poderiam estes homens sobreviver? Se deixasse os homens nas mãos do rei de Sodoma, como permitir uma escravidão dura de tantas almas? Abrão foi consciente, colocou a pessoa humana em primeiro plano e não aceitou qualquer comprometimento com Sodoma e sua gente ímpia.

5. Reconhecendo que Deus é o dono de tudo. (Gn 14.22). Quando reconhecemos que Deus é o dono de tudo e que nada somos do que simples mordomos, administradores destes bens que pertencem a Deus (Sl 24.1), teremos o mesmo comportamento que teve Abrão. Não era do rei de Sodoma toda aquela fazenda que havia sido recuperada, nem tampouco as vidas humanas que estavam cativas. Eram de Deus. E Deus não as havia dado a Abrão, de forma que o patriarca, que tudo fazia sob a direção divina, não ousou tomar aquilo que não era seu, por direito divino, embora a ética humana até lhe concedesse direito sobre tudo, por força da lei da guerra.

6. Expressando civilidade. (Gn 14.24). Abrão continuava o mesmo homem independente e social de sempre. Entrara na luta, vencera. Não era um isolado nem um alienado. Tinha recebido, inclusive, ajuda de seus confederados, mas continuava diferente dos demais, com seus próprios valores, princípios e propósitos. Tanto assim é que, apesar da recusa do despojo da guerra, deixa seus amigos completamente livres para tomar do referido despojo (Gn 14.24), prova de que a aliança que Abrão tinha com Manre, Escol e Aner preservava a independência de cada um (daí porque eram "confederados", como se vê em Gn 14.13). 
É exatamente este o relacionamento que o crente deve ter com os ímpios, visto que o isolamento é impossível, já que estamos no mundo, sendo, igualmente, indispensável que mantenhamos nossa santidade, ou seja, nossa separação do pecado. Só assim poderemos nos apresentar como "irrepreensíveis e sinceros, filhos de Deus inculpáveis no meio de uma geração corrompida e perversa, entre a qual resplandeceis como astros no mundo" (Fp 2.15). Em suma: o crente não deve nem pode se separar dos pecadores, mas, sim, do pecado.

CONCLUSÃO

Melquisedeque, contemporâneo de Abraão, foi rei de Salém e sacerdote de Deus (Gn 14.18). Abraão lhe pagou dízimos e foi por ele abençoado (vv.2-7). Aqui, a Bíblia o tem como uma prefiguração de Jesus Cristo, que é tanto sacerdote como rei (v.3) O sacerdócio de Cristo é “segundo a ordem de Melquisedeque” (6.20), o que significa que Cristo é anterior a Abraão, a Levi e aos sacerdotes levíticos, e maior que todos eles. Mediante a intercessão de Cristo, aqueles que se chegam a Deus pode receber graça para ser salvo ‘perfeitamente’. Quando se diz que Cristo é sumo sacerdote segundo a ordem de Melquisedeque, entende-se que um sacerdócio falível e temporal é substituído por um sacerdócio infalível, irrepreensível, perfeito e eterno. É por isso que Hebreus 7.12 diz que houve mudança de sacerdócio.



REFERÊNCIAS:

Bíblia de Estudo Aplicação Pessoal. Rio de Janeiro: CPAD, 2004.
Bíblia de Estudo Palavra Chave. Rio de Janeiro: CPAD.
Bíblia de Estudo Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 2005.
BOYER, Orlando. PEQUENA ENCICLOPÉDIA BÍBLICA. Estados Unidos da América: Editora Vida, 1998.
HAMILTON, Victor P. Manuel do Pentateuco.  Rio de Janeiro: CPAD.
http://luloure.blogspot.com.br/
MERRILL, Eugene H. História de Israel no Antigo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD.
RICHARDS, Lawrence O. Guia do Leitor da Bíblia: Uma análise de Gênesis a Apocalipse capítulo por capítulo. Rio de Janeiro: CPAD, 2012.
WALTKE, Bruce K. Gênesis. Editora Cultura Cristã.

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