segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

Relacionamento e Perdão

TEXTO DO DIA:
“Então, Pedro, aproximando-se dele, disse: Senhor, até quantas vezes pecará meu irmão contra mim, e eu lhe perdoarei? Até sete? Jesus lhe disse: Não te digo que até sete, mas até setenta vezes sete” (Mt 18.21,22).


SÍNTESE
A doutrina bíblica do perdão é um bálsamo santo sobre a consciência pecaminosa do homem e uma ponte para relacionamentos rompidos.


TEXTO BÍBLICO
Mateus 18.21-35.


INTRODUÇÃO

O relacionamento entre pessoas tem sido complicado desde a criação, como também o relacionamento entre homem e Deus. Isso é devido à deformação na forma de ver as coisas. Como ficará claro ao longo desta lição, a palavra grega traduzida como "perdoar" significa literalmente cancelar ou remir, isto é, liberação ou cancelamento de uma obrigação. Foi algumas vezes usada no sentido de perdoar um débito financeiro. O conceito bíblico de perdão deriva do entendimento de que o pecador é um devedor espiritual; uma pessoa se torna devedora quando transgredi a lei de Deus (1 Jo 3.4). Deus nos tem perdoado em Cristo uma multidão de pecados pelos quais jamais poderíamos pagar para satisfazer à justiça da santidade divina, e assim como Ele nos perdoou em Cristo, também devemos perdoar. O exercício do perdão caracteriza um cristão verdadeiro e é por causa de sua falta que somos disciplinados pelo Senhor com os Seus juízos corretivos quando nos deixamos vencer por mágoas, ressentimentos e amarguras contra o nosso próximo, seja por qual motivo for.


I. O QUE É O PERDÃO

1. Nas línguas bíblicas. A palavra grega traduzida como "perdoar" significa literalmente cancelar ou remir. Significa a liberação ou cancelamento de uma obrigação e foi algumas vezes usada no sentido de perdoar um débito financeiro. Para entendermos o significado desta palavra dentro do conceito bíblico de perdão, precisamos entender que o pecador é um devedor espiritual. Até Jesus usou esta linguagem figurativa quando ensinou aos discípulos como orar: "e perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós temos perdoado aos nossos devedores" (Mt 6.12). Uma pessoa se torna devedora quando transgrede a lei de Deus (1 João 3.4). Cada pessoa que peca precisa suportar a culpa de sua própria transgressão (Ez 18.4,20) e o justo castigo do pecado resultante (Rm 6.23). Ele ocupa a posição de pecador aos olhos de Deus e perde sua comunhão com Deus (Is 59.1-2; 1Jo 1.5-7). Os vocábulos utilizados tanto no texto do Antigo quanto do Novo Testamento nos ensinam o seguinte: O perdão de Deus:
- Perdão completo, não parcial. Ele perdoa a todas as iniquidades (Sl 103.3).
- Perdão imediato, não tardio. Ele é pronto em perdoar e abundante (Sl 86.5).
- Perdão com alegria, não de mau-humor. Ele tem prazer (Mq 7.18).
- Perdão definitivo, não guarda rancor. Ele esquece dos pecados (Is 43.25; Jr 31.34; Is 1.18)
- Perdão grande, não pequeno. Ele é grandioso em perdoar (Is 55.7; Ne 9.17).
Tememos a Deus, pois mesmo podendo condenar, Ele perdoa (Mt 10.28; Sl 130.4). Na oração do Pai nosso em Mateus 6.12, lemos: "E perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores;", o que nos leva a entender que o perdão de Deus é condicional. Ou seja, temos uma das poucas coisas que Deus depende do homem; para Deus nos perdoar, Ele depende de que primeiro perdoemos os outros. Logo, é necessário exercer perdão para obter o perdão de Deus.

2. Nos atos e ensinos de Jesus. Ao ouvir o ensino de nosso Senhor relativo ao exercício da disciplina na Igreja, Pedro se antecipou aos demais discípulos e Lhe perguntou Jesus quantas vezes estaria obrigado a perdoar um irmão faltoso. Ele se valeu da tradição dos escribas e fariseus quando perguntou se até sete vezes, porque eles ensinavam que este era o número máximo que uma pessoa poderia ser perdoada por alguém. O maior exemplo de perdão foi dado por Deus: o perdão da cruz (Lc 23.34). O perdão de Jesus libertou-nos das nossas dívidas (Cl 2.13-15). A boa nova do evangelho é que Jesus pagou o preço por nossos pecados com sua morte na cruz. Quando chegamos à Cristo pelo impulso do Espírito e alcançamos a salvação através da fé, é aquele ato no Calvário sendo o pagamento de nossos pecados e nos livrando da culpa por nossas transgressões. Não ficamos mais na posição de infratores da lei, de devedores diante de Deus, seus inimigos. Somos perdoados!

3. Nos ensinos das epístolas. Paulo explana muito bem sobre o perdão em suas epístolas e nos esclarece que o perdão é o ato no qual o ofendido livra o ofensor do pecado, liberta-o da culpa pelo pecado. Este é o sentido pelo qual Deus “esquece” quando perdoa (Hb 8.12). Isso não implica dizer que Deus tenha amnésia. Por exemplo, Deus lembrou-se do pecado de Davi a respeito de Bate-Seba e Urias muito tempo depois que Davi tinha sido perdoado (2 Sm 12.13; 1Rs 15.5). Ele liberta a pessoa perdoada da dívida do seu pecado, isto é, cessa de imputar a culpa desse pecado à pessoa perdoada (Rm 4.7-8). É estendido, ainda, a ideia de que o perdão de Deus é condicional. Deus, ao perdoar, não exige mais a morte do pecador que responde a seu convite de salvação, aplicando sobre ele a justiça de Cristo, mas para isto, Deus exige fé, arrependimento e confissão (At 2.37-38; 8.35-38; Rm 10.9-10).

Pense!
“Não levante a espada sobre a cabeça de quem te pediu perdão” (Machado de Assis).
Ponto Importante
 “Quer ser feliz por um instante? Vingue-se. Quer ser feliz para sempre? Perdoe” (Tertuliano).

II. O QUE NÃO É PERDÃO

1. Não é fraqueza e covardia. Realmente, Nietzsche reserva suas palavras mais amargas para a ética cristã. O que ele pretende mostrar é que o tipo de homem que a metafísica e a moral cristãs visam modelar é um tipo fraco, no sentido em que, para ser moral, deve alhear-se de uma parte da realidade, a mais concreta; a dimensão da sensibilidade. Assim, descreve o homem ideal da moral cristã como um «hemiplégico», paralisado de um lado. A acusação principal de Nietzsche contra a ética cristã é que é uma moralidade de fraqueza. "Desde o próprio início, a fé cristã é um sacrifício: o sacrifício de toda a liberdade, de todo orgulho, de toda a autoconfiança da mente; ao mesmo tempo, é servidão, zombaria de si mesmo e automutilação." Segundo Nietzsche: "Torne-se medíocre!' agora é a única moralidade que faz sentido, que acha ouvidos para ouvir." E no centro desta moralidade da mediocridade há o conceito cristão do amor. " 'A compaixão para todos' importaria em rigor e tirania para você, meu caro vizinho!" exclama ele. Além disto, diz: "amar a humanidade por amor a Deus tem sido, até agora, o sentimento mais distinto e forçado que a humanidade tem galgado." A Bíblia ensina que o direito de vingança pertence ao Senhor (Rm 12.17-21). O perdão, contudo, não é simplesmente uma recusa a tirar vingança. Algumas vezes a pessoa ofendida abstém-se de responder ao mal com o mal, mas não está querendo libertar o pecador de sua condição de transgressor mesmo quando o pecador se arrepende. A pessoa contra quem se pecou pode querer usar o pecado como um cacete para castigar o pecador, mencionando-o de vez em quando para vergonha do pecador. Se perdoo meu irmão, tenho que "esquecer" seu pecado no sentido que não mais o atribuo a ele. Ao contrário do pensamento Nietzschiano, exercitar perdão é o maior ato de nobreza, desde que, entendamos que o perdão não significa a remoção das consequências temporais. O homem que assassina outro pode arrepender-se e procurar o perdão, mas ainda assim sofrerá o castigo temporal da lei humana. Mesmo se perdoado, pode ter que passar o resto de sua vida na prisão. O perdão remove as consequências eternas do pecado!

2. Não é tolerância ao erro. De fato, se libertamos o pecador de sua culpa sem arrependimento, encorajamo-lo a continuar em seus modos destruidores. O perdão não é a desculpa pelo pecado. Algumas pessoas "esquecem," isto é, ignoram os pecados cometidos contra elas porque têm medo de enfrentar o pecador. Entretanto a Bíblia é bem explícita sobre o curso da ação a ser seguida quando um irmão peca contra mim (Lucas 17.3; Mateus 18.15-17). O perdão fala de misericórdia, mas não deverá ser confundido com a tolerância e permissão do pecado. O Senhor perdoará ou punirá o pecador, dependendo da reação do pecador ao evangelho, mas ele não tolera a iniquidade.

3. Não é anular a justiça (Lc 23.39-43). Perdão não anula a Justiça. Perdão anula a Vingança: “Não retribuam a ninguém mal por mal. Procurem fazer o que é correto aos olhos de todos. Façam todo o possível para viver em paz com todos. Amados, nunca procurem vingar-se, mas deixem com Deus a ira, pois está escrito: “Minha é a vingança; eu retribuirei”, diz o Senhor. Ao contrário: “Se o seu inimigo tiver fome, dê-lhe de comer; se tiver sede, dê-lhe de beber. Fazendo isso, você amontoará brasas vivas sobre a cabeça dele”. Não se deixem vencer pelo mal, mas vençam o mal com o bem” (Rm 9.17-21).]

Pense!
Jesus ensinou que a justiça divina é distributiva e misericordiosa (Mt 20.1-16).
Ponto Importante
O exercício do perdão é uma lembrança de nossa posição diante de Deus.

III. PERDÃO, BASE DE RELACIONAMENTOS SAUDÁVEIS

1. Conflitos nos relacionamentos (Cl 3.13). O pecado danifica as relações entre as pessoas como prejudica nossa relação com nosso Criador. A pessoa contra quem se pecou frequentemente se sente ferida, talvez irada pela injustiça do pecado cometido. O perdão é necessário para a cura espiritual da relação, mas precisamos preparar nossos corações para perdoar. Precisamos aceitar a injustiça do ferimento, a deslealdade do pecado, e ficarmos prontos para perdoar (observe os exemplos de Jesus e Estevão - Lc 23.34; At 7.60). Mesmo se o pecador se recusar a se arrepender, não podemos continuar a nutrir a raiva, ou ela se tornará em ódio e amargura (veja Ef 4.26-27,31-32). Ainda que o pecador possa manter sua posição como transgressor por causa de sua recusa a se arrepender, seu pecado não deverá dominar meu estado emocional.

2. As duas dimensões do perdão. Já lemos que o perdão divino é condicional, precisamos exercer perdão para alcançarmos o perdão divino. O que significa perdoar: “Jesus contou uma parábola sobre um servo que devia uma quantia enorme (10.000 talentos) ao seu rei (Mt 18.23-35). Ele era incapaz de pagar a dívida e implorou ao rei por compaixão. O rei perdoou-o por sua enorme dívida, mas este servo prontamente saiu e encontrou um dos seus companheiros servos que devia a ele uma quantia relativamente pequena e exigiu pagamento, agarrando-o pelo pescoço. Ainda que o companheiro de servidão implorasse por compaixão, o credor entregou-o à prisão. Quando o rei foi informado dos atos de seu servo incompassivo, irou-se e reprovou este servo, entregando-o aos torturadores até que ele pagasse totalmente sua dívida. É claro que estamos representados na parábola pelo servo que tinha uma dívida enorme. Não há comparação entre as ofensas que temos cometido contra Deus e aquelas que têm sido cometidas contra nós. Jesus observou que, justo como no caso do servo não misericordioso, o Pai não nos perdoará por nossas infrações se não perdoarmos nossos companheiros (18.35; veja também Mt 5.7). Para nos prepararmos para perdoar, precisamos lembrar que nós mesmos somos pecadores e necessitados do perdão divino (Rm 3.23). No caso do cristão, Deus já lhe perdoou uma imensa dívida no momento do batismo. Quando nos lembramos da grandeza da dívida que Deus quer nos perdoar, certamente podemos perdoar aqueles que nos devem muito menos em comparação (Ef 4.32; Cl 3.13).

3. A dádiva do perdão. Exercitar o perdão não é fácil, e quanto maior a intimidade que temos com aquele que peca contra nós, mais difícil é perdoá-lo. As Escrituras nos ensinam, contudo, que a má vontade em perdoar os outros nos retira o perdão divino (Mt 6.14-15). Desde que todos os indivíduos responsáveis diante de Deus necessitam de perdão, é portanto indispensável que entendamos e pratiquemos o perdão. Agora, é preciso entender que, não é o ofendido que deve pedir perdão ao ofensor! Não há nenhum exemplo Escriturístico desse estranho comportamento. Ah! Você poderia dizer: “mas Jesus enquanto padecia injustamente, disse: ‘Pai, perdoa-lhes porque...’"; isto é verdade, mas Ele não disse: "perdoem-Me pelo fato do Meu sangue ter espirrado e sujado suas roupas"! Pense em Jesus implorando a Judas: "Judas, não sei porque você está Me odiando, mas Eu lhe imploro, perdoe-Me por lhe fazer Me odiar". Isto afirmo em virtude de um entendimento equivocado que ensina a pedir-se perdão ao ofensor, e não há base bíblica para isso. Nosso texto do dia (Mt 18.21) diz que é o ofendido quem perdoa, não diz que é ele quem vai pedir perdão!

Pense!
“Assim vos fará também meu Pai celestial, se do coração não perdoardes, cada um a seu irmão, as suas ofensas” (Mt 18.35).
Ponto Importante
“O juízo final será sem misericórdia sobre aquele que não fez misericórdia” (Tg 2.13).

CONCLUSÃO

O perdão é uma dádiva divina na qual o cristão é chamado a participar livremente. Finalmente, diante de tudo o que foi exposto, o que sobressai é que o ofendido quem deve perdoar, e perdoar independentemente do ofensor lhe pedir perdão! (Mt 18.15-17; Mc 11.25; Lc 11.4; 17.4; Ef 4.32; Cl 3.13). Quanto ao ofensor, terá que formular o pedido de perdão para alcançar a remissão. Se isso não for feito, nunca estará perdoado, ainda que o ofendido esteja disposto a fazê-lo ou que em seu coração haja feito. O pedido de perdão será verdadeiro se houver real arrependimento, sem o que não terá nenhum valor, nem perante o ofendido e nem perante Deus. Na oração do Pai nosso em Mt 6.12, lemos: "E perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores;" - o que nos leva a entender que o perdão de Deus é condicional. Ou seja, temos uma das poucas coisas que Deus depende do homem, o quê? O exercício do perdão! “Se vocês perdoam a alguém, eu também perdoo; e aquilo que perdoei, ... perdoei na presença de Cristo, por amor a vocês, a fim de que Satanás não tivesse vantagem sobre nós; pois não ignoramos as suas intenções” (2Co 2.10).


REFERÊNCIAS:

Bíblia de Estudo Aplicação Pessoal. Rio de Janeiro: CPAD, 2004.
Bíblia de Estudo Palavra Chave. Rio de Janeiro: CPAD.
Bíblia de Estudo Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 2005.
BOYER, Orlando. PEQUENA ENCICLOPÉDIA BÍBLICA. Estados Unidos da América: Editora Vida, 1998.
http:// http://www.auxilioaomestre.com/
RICHARDS, Lawrence O. Guia do Leitor da Bíblia: Uma análise de Gênesis a Apocalipse capítulo por capítulo. Rio de Janeiro: CPAD, 2012.

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